sábado, 14 de abril de 2012

Divaldo Franco receberá título de Cidadão Honorário de Minas Gerais



O humanista, médium e orador espírita Divaldo Pereira Franco receberá, nesta segunda-feira (16/4/12), o título de Cidadão Honorário do Estado de Minas Gerais. A condecoração será concedida pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais, em Reunião Especial de Plenário, às 20 horas. O requerimento para a homenagem é do deputado Luiz Carlos Miranda (PDT).
Divaldo Pereira Franco nasceu em Feira de Santana (BA), em 5 de maio de 1927. Sua capacidade mediúnica se manifestou ainda na infância e, aos 20 anos, passou a proferir conferências no Brasil e no exterior. Somente em Minas Gerais, estima-se que ele já tenha feito 800 palestras.
Em 1952, Franco iniciou a obra social Mansão do Caminho, em Salvador (BA). Ao longo de sua vida, ele psicografou mais de 250 obras, vendendo mais de 8 milhões de livros, muitos deles traduzidos para até 17 idiomas. A convite da Organização das Nações Unidas (ONU), participou do Primeiro Encontro Mundial pela Paz, em 2000. No ano seguinte, foi condecorado com a Medalha Chico Xavier, em Uberaba (Triângulo Mineiro). Essa foi uma das mais de 600 homenagens recebidas pelo médium ao longo de sua vida. Outro destaque em seu currículo é a nomeação para o cargo de embaixador internacional da Paz pela Ambassade Universelle pour la Paix, sediada em Genebra (Suíça).
O deputado Luiz Carlos Miranda argumenta que o título de Cidadão Honorário deve ser concedido a pessoas que oferecem algo de excepcional ao Estado e à humanidade. "Conheço Divaldo há mais de 30 anos e o trabalho dele tem um viés social muito importante", argumenta. O parlamentar exemplifica que em Ipatinga, no Vale do Aço, há um trabalho de acolhimento de crianças desenvolvido por influência de Divaldo.

ALMG

O dia 14 de abril na doutrina espírita



Em 1949, é realizada a I Feira do Livro Espírita no Rio de Janeiro, patrocinada pelo conselho consultivo de Mocidades Espíritas do Brasil, graças ao trabalho de Arthur Lins de Vasconcelos Lopes (foto acima).

         Em 1999, é instituído o Dia do Consolador.



        Em 2001, é aberto o 4º Encontro Estadual de Coordenadores de Juventudes Espíritas, em Campo Largo, com Sandra Borba Pereira. Tema: Estudando a pedagogia espírita. Encerrado no dia 15 de abril de 2001.

         Em 2006, em Matinhos, é aberto o 9º Encontro Confraternativo de Juventudes Espíritas do Paraná, com Sandra Borba Pereira. Tema: Nosso amigo Jesus. Encerrado a 16 de abril de 2006.

A visão espírita da anencefalia - Joanna de Ângelis



Joanna de Ângelis



ANENCEFALIA

     Nada no Universo ocorre como fenômeno caótico, resultado de alguma desordem que nele predomine. O que parece casual, destrutivo, é sempre efeito de uma programação transcendente, que objetiva a ordem, a harmonia.
     De igual maneira, nos destinos humanos sempre vige a Lei de Causa e Efeito, como responsável legítima por todas as ocorrências, por mais diversificadas apresentem-se.
     O Espírito progride através das experiências que lhe facultam desenvolver o conhecimento intelectual enquanto lapida as impurezas morais primitivas, transformando-as em emoções relevantes e libertadoras.
     Agindo sob o impacto das tendências que nele jazem, fruto que são de vivências anteriores, elabora, inconscientemente, o programa a que se deve submeter na sucessão do tempo futuro.
     Harmonia emocional, equilíbrio mental, saúde orgânica ou o seu inverso, em forma de transtornos de vária denominação, fazem-se ocorrência natural dessa elaborada e transata proposta evolutiva.
     Todos experimentam, inevitavelmente, as consequências dos seus pensamentos, que são responsáveis pelas suas manifestações verbais e realizações exteriores.
     Sentindo, intimamente, a presença de Deus, a convivência social e as imposições educacionais, criam condicionamentos que, infelizmente, em incontáveis indivíduos dão lugar às dúvidas atrozes em torno da sua origem espiritual, da sua imortalidade.
     Mesmo quando se vincula a alguma doutrina religiosa, com as exceções compreensíveis, o comportamento moral permanece materialista, utilitarista, atado às paixões defluentes do egotismo.
     Não fosse assim, e decerto, muitos benefícios adviriam da convicção espiritual, que sempre define as condutas saudáveis, por constituírem motivos de elevação, defluentes do dever e da razão.
     Na falta desse equilíbrio, adota-se atitude de rebeldia, quando não se encontra satisfeito com a sucessão dos acontecimentos tidos como frustrantes, perturbadores, infelizes...
     Desequipado de conteúdos superiores que proporcionam a autoconfiança, o otimismo, a esperança, essa revolta, estimulada pelo primarismo que ainda jaz no ser, trabalhando em favor do egoísmo, sempre transfere a responsabilidade dos sofrimentos, dos insucessos momentâneos aos outros, às circunstâncias ditas aziagas, que consideram injustas e, dominados pelo desespero fogem através de mecanismos derrotistas e infelizes que mais o degrada, entre os quais o nefando suicídio.
     Na imensa gama de instrumentos utilizados para o autocídio, o que é praticado por armas de fogo ou mediante quedas espetaculares de edifícios, de abismos, desarticula o cérebro físico e praticamente o aniquila...
     Não ficariam aí, porém, os danos perpetrados, alcançando os delicados tecidos do corpo perispiritual, que se encarregará de compor os futuros aparelhos materiais para o prosseguimento da jornada de evolução.
                            
    É inevitável o renascimento daquele que assim buscou a extinção da vida, portando degenerescências físicas e mentais, particularmente a anencefalia.
    Muitos desses assim considerados, no entanto, não são totalmente destituídos do órgão cerebral.
     Há, desse modo, anencéfalos e anencéfalos.
     Expressivo número de anencéfalos preserva o cérebro primitivo ou reptiliano, o diencéfalo e as raízes do núcleo neural que se vincula ao sistema nervoso central…
     Necessitam viver no corpo, mesmo que a fatalidade da morte após o renascimento, reconduza-os ao mundo espiritual.
     Interromper-lhes o desenvolvimento no útero materno é crime hediondo em relação à vida. Têm vida sim, embora em padrões diferentes dos considerados normais pelo conhecimento genético atual...
     Não se tratam de coisas conduzidas interiormente pela mulher, mas de filhos, que não puderam concluir a formação orgânica total, pois que são resultado da concepção, da união do espermatozoide com o óvulo.
     Faltou na gestante o ácido fólico, que se tornou responsável pela ocorrência terrível.
     Sucede, porém, que a genitora igualmente não é vítima de injustiça divina ou da espúria Lei do Acaso, pois que foi corresponsável pelo suicídio daquele Espírito que agora a busca para juntos conseguirem o inadiável processo de reparação do crime, de recuperação da paz e do equilíbrio antes destruído.
     Quando as legislações desvairam e descriminam o aborto do anencéfalo, facilitando a sua aplicação, a sociedade caminha, a passos largos, para a legitimação de todas as formas cruéis de abortamento.
     ... E quando a humanidade mata o feto, prepara-se para outros hediondos crimes que a cultura, a ética e a civilização já deveriam haver eliminado no vasto processo de crescimento intelecto-moral.
     Todos os recentes governos ditatoriais e arbitrários iniciaram as suas dominações extravagantes e terríveis, tornando o aborto legal e culminando, na sucessão do tempo, com os campos de extermínio de vidas sob o açodar dos mórbidos preconceitos de raça, de etnia, de religião, de política, de sociedade...
     A morbidez atinge, desse modo, o clímax, quando a vida é desvalorizada e o ser humano torna-se descartável.
     As loucuras eugênicas, em busca de seres humanos perfeitos, respondem por crueldades inimagináveis, desde as crianças que eram assassinadas quando nasciam com qualquer tipo de imperfeição, não servindo para as guerras, na cultura espartana, como as que ainda são atiradas aos rios, por portarem deficiências, para morrer por afogamento, em algumas tribos primitivas.
     Qual, porém, a diferença entre a atitude da civilização grega e o primarismo selvagem desses clãs e a moderna conduta em relação ao anencéfalo?
     O processo de evolução, no entanto, é inevitável, e os criminosos legais de hoje, recomeçarão, no futuro, em novas experiências reencarnacionistas, sofrendo a frieza do comportamento, aprendendo através do sofrimento a respeitar a vida…                      

     Compadece-te e ama o filhinho que se encontra no teu ventre, suplicando-te sem palavras a oportunidade de redimir-se.
     Considera que se ele houvesse nascido bem formado e normal, apresentando depois algum problema de idiotia, de hebefrenia, de degenerescência, perdendo as funções intelectivas, motoras ou de outra natureza, como acontece amiúde, se também o matarias?
     Se exercitares o aborto do anencéfalo hoje, amanhã pedirás também a eliminação legal do filhinho limitado, poupando-te o sofrimento como se alega no caso da anencefalia.
     Aprende a viver dignamente agora, para que o teu seja um amanhã de bênçãos e de felicidade.

                            Joanna de Ângelis

(Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na reunião mediúnica da noite de 11 de abril de 2011, quando o Supremo Tribunal de Justiça, estudava a questão do aborto do anencéfalo, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.)

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Seminário Espírita da Região dos Inconfidentes " - Mesa redonda com Haroldo Dutra, Wagner Paixão, César Perri, Angélica Costa e Célia Reys



A cidade histórica de Ouro Preto (MG) sediou nos dias 30 e 31 de março o "Seminário Espírita da Região dos Inconfidentes ", tendo como tema central "O Evangelho e a Atualidade". O evento foi aberto na noite do dia 30, no Teatro Municipal Casa da Ópera, com apresentações musicais, saudações pelo coordenador Eurípedes Mariano Cunha e pelo presidente da União Espírita Mineira Marival Veloso de Matos, e, palestra pública pelo vice-presidente da FEB Antonio Cesar Perri de Carvalho.

Foi a primeira vez que este auditório -- o mais antigo teatro das Américas em funcionamento (fundado em 1770) -- recebeu uma promoção espírita. No dia seguinte, o seminário se desenvolveu no Centro de Artes e Convenções da Universidade Federal de Ouro Preto, sendo expositores: Haroldo Dutra Dias (Evangelho aplicado aos Problemas da Transição), Célia Maria Rey de Carvalho (Casos do Livro Paulo e Estêvão Aplicados aos Problemas Atuais), Wagner Gomes da Paixão e Arnaldo Rocha (A Obra de Emmanuel -- Chico Xavier), Antonio Cesar Perri de Carvalho (Missão do Espiritismo no Mundo), Angélica Maia (Instrumentos de Trabalho e Renovação -- Kardec, a Chave). Houve homenagem pelos 102 anos do nascimento de Chico Xavier e, ao final, desenvolveu-se uma mesa redonda com todos os expositores, respondendo a perguntas do público.

Nos dois dias, Wagner psicografou mensagens em público. No Teatro e no Centro de Convenções houve o comparecimento de numeroso público das cidades próximas e também de outras regiões de Minas Gerais. Todo o evento foi transmitido ao vivo pela Rede Amigo Espírita.


Amigoespirita.ning

domingo, 8 de abril de 2012

Sidarta Gautama - Buda


Meio milênio antes de Cristo, o príncipe hindu Sidarta Gautama deixou seu luxuoso palácio e sua família para seguir os passos da mendicância, do jejum, da meditação. E acabou criando uma religiãoque crê no homem e que, hoje, influencia cada vez mais pessoas no Ocidente. Com você, a fascinantehistória de Buda e de sua doutrina
O certo é que todos os sábios desse período parecem seguir um caminho comum quando conclamam seus contemporâneos a radicais mudanças em suas vidas. Do século VIII ao VI a.C. os profetas de Israel reformaram o antigo paganismo hebreu. Na China dos séculos VI e V a.C., Confúcio e Lao-Tsé chacoalhavam as velhas tradições religiosas. Na Pérsia, o monoteísmo desenvolvido por Zoroastro expandiu-se e influenciou outras religiões. No século V a.C., Sócrates e Platão encorajavam os gregos a questionar até mesmo as verdades que pareciam mais evidentes. Tudo acontecendo mais ou menos junto. E é bem no meio dessa era, no século VI a.C., que surge o criador do Budismo, uma das mais influentes religiões do mundo, hoje com quase 400 milhões de adeptos.
Há 3 000 anos começaram a se formar as principais filosofias e religiões que organizaram as visões de mundo do homem contemporâneo. Alguns filósofos, como o alemão Karl Jaspers, dão a essa época o nome de Era Axial. Axial diz respeito a eixo. Foi, portanto, quando o homem começou a buscar o seu eixo. Ou, segundo Jaspers, quando passamos a prestar atenção em nós mesmos. A Era Axial estende-se entre os séculos VIII e II a.C. “Nessa época, as pessoas discutiam sobre espiritualidade com o mesmo entusiasmo com que hoje se discute futebol”, diz a escritora inglesa Karen Armstrong, uma das mais respeitadas estudiosas de religião, autora de best-sellers como Maomé e Buda. Os historiadores ainda não sabem o que causou esse despertar para a religião e para a filosofia, nem por que ele se concentrou na China, no Mediterrâneo Oriental, na Índia e no Irã. Acredita-se que com as sociedades agrícolas, mais estáveis, o homem ganhou tempo extra para dedicar-se à contemplação.
No caldo da primeva Era Axial, a Índia também passou por grandes transformações. Sua cultura foi dominada pelos arianos, antigos povos nômades que teriam migrado da Ásia Central 4 000 anos antes. A sociedade ariana dividia-se em castas: brahmins, os sacerdotes; ksatriyas, os guerreiros e governantes; vaisyas, os camponeses e criadores de gado; e sudras, os escravos ou marginais. O que determina a inclusão em uma dessas classes é a hereditariedade – ou seja, somente aquele que nasceu de mãe da casta bramânica podia realizar rituais e curas. Para os brâmanes, a essência do universo está em Brahman, deus primordial que se expressa em uma infinidade de outras deidades. Sua rígida espiritualidade é expressa nas escrituras sagradas conhecidas como Vedas. Na Índia dessa época, os sacerdotes tinham uma espécie de reserva de mercado. E, assim como acontecia em outras regiões, surgiu uma revolta contra esses sacerdotes e seus rituais – que incluíam sangrentos sacrifícios de animais.
Mas novos movimentos reinterpretavam as antigas tradições, procurando afastar-se desses rituais e buscar outro tipo de sacrifício, mais interno, de renúncia às coisas do mundo – aquela atenção a si mesmo descrita por Jaspers.
É nessa Índia em ebulição espiritual que surge Sidarta Gautama, o Buda. Ele nasceu em 563 a.C. em Lumbini, aos pés do Himalaia, em uma região que hoje pertence ao Nepal. Era um aristocrata, da casta ksatrya, a dos guerreiros e governantes. Seu pai, Shudodhana, era o rei do clã dos sakyas. Vem daí o outro nome pelo qual Sidarta se tornaria conhecido: Sakyamuni, ou “o sábio silencioso dos sakyas”. O pai de Sidarta, temendo que se cumprisse uma profecia segundo a qual ele se tornaria um homem santo, cercou-o de luxos e prazeres, acreditando que se o mantivesse ignorante sobre o sofrimento do mundo, iria afastá-lo do caminho espiritual. Sidarta tinha um palácio para o inverno, outro para o verão e um terceiro para a época das chuvas. Na adolescência, vivia cercado por belas moças, ocupadas em diverti-lo em seus aposentos decorados com sugestiva arte erótica. Aos 16 anos, escolheu-se uma noiva para ele, a bela Yashodhara, com quem teria um filho, Rahula.
Pouca coisa mudaria na sua vida até os 29 anos. Apesar de todo o luxo, Sidarta sentia-se infeliz. Certo dia, contra a vontade do pai, saiu para passear fora do palácio e se surpreendeu com quatro cenas que o tirariam para sempre daquela vida de prazeres. Primeiro, viu um velho arqueado, de pele enrugada, movendo-se com dificuldade. Depois, avistou um doente que sofria dores terríveis. Mais tarde, cruzou seu caminho um cortejo fúnebre. Um morto era carregado por amigos e parentes que choravam sua perda. Foi um choque e tanto para alguém que sempre vivera protegido, sem se dar conta de que tudo que nasce também se degenera, envelhece e morre. “A imagem que temos de Sidarta Gautama pelas antigas escrituras é a de um jovem às voltas com problemas existenciais, angustiado por questões ligadas ao mistério da vida”, diz o monge brasileiro Nissin Cohen, que traduziu para o português o Dhammapada, uma das mais importantes escrituras budistas.
A quarta visão do passeio de Sidarta foi um mendigo errante, esmolando por comida. Apesar da sua pobreza, tinha porte ereto, feições radiantes e expressão de profunda serenidade. Sidarta determinou-se a também abraçar uma vida santa e a buscar uma resposta para o sofrimento que viu no mundo. Uma decisão como essa não era tão incomum na Índia daquela época. Acreditava-se que somente quando se abandona a vida doméstica e os laços afetivos para tornar-se um eremita ou andarilho é que se conseguem as respostas para a busca espiritual. Essa busca tinha um objetivo específico. A maioria da população indiana acreditava em alguma forma de renascimento ou transmigração, em um ciclo interminável que começa no nascimento, passa para a velhice, a morte e recomeça em novo nascimento. O ideal que todos desejavam era algo capaz de pôr fim a esse ciclo, que pudesse libertar o espírito desse movimento circular.
Sidarta abandonou o palácio enquanto todos dormiam. Saiu de fininho, sem ao menos se despedir da mulher e do seu pequeno filho. O príncipe logo aprendeu a dormir no chão e a esmolar por comida. Além da mendicância, a vida de filósofo-andarilho (ou sramana) incluía práticas de meditação. Na sua busca, ele se aproximou de dois famosos mestres e rapidamente chegou aos últimos estágios de absorção contemplativa propostos por eles. Mas ainda não atingira a suprema realização que buscava. Dedicou-se então à automortificação. As práticas ascéticas são comuns às formas primitivas da maior parte das religiões, inclusive no Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. O que está por trás da autoflagelação é a idéia de que um rígido controle dos sentidos desenvolve a autodisciplina e transfere o máximo de energia corporal para a atividade mental.
Durante seis anos, Sidarta experimentou privações e dores. Mudou radicalmente a alimentação, ampliando o período entre as refeições. De uma por dia, passou a uma a cada dois dias, três, quatro, até alimentar-se somente a cada 15 dias. Depois, diminuiu a quantidade até chegar à ração diária de um único grão de arroz. Simultaneamente, fazia experiências psicológicas, analisando em si mesmo certas emoções que, acreditava, só poderia eliminar completamente se as observasse em profundidade. Para analisar o medo e meditar sobre a impermanência, passava noites deitado entre cadáveres e esqueletos num cemitério. Ainda assim, não alcançara sua realização final. O próprio Sidarta descreve os efeitos dos jejuns: “Quando eu pensava estar tocando a pele do meu abdomem, era a minha coluna que eu segurava”. Abandonou essas práticas quando já era quase só pele e ossos. Sua experiência provou que a autoflagelação embota a mente em vez de favorecê-la.
Ele intuiu, então, que o caminho para a libertação não estava nos excessos de ascetismo, nem nos da sensualidade, mas em um ponto de equilíbrio entre eles. Vem daí a expressão “caminho do meio”, um dos pilares do Budismo.
Sidarta voltou a comer. Segundo conta-se, uma porção de arroz e leite oferecida por uma jovem que o encontrou quase morto à beira de um rio. Dias depois, recuperado, preparou um assento de capim sob uma figueira – que ficaria conhecida como a árvore bodhi, ou árvore da iluminação – na região de Bodhgaya, no norte da Índia. Decidiu então que ou atingiria a iluminação ali ou morreria. Mesmo para um alto praticante como ele, surgiram obstáculos. Alguns relatos os descrevem na forma de tentações e demônios, como Mara, deus indiano da morte. São imagens que simbolizam os obscuros medos reprimidos, fragmentos de memória, dúvidas, fantasias e outros conteúdos mentais tão persistentes e familiares a quem já tenha tentado alguma prática meditativa. Sidarta transpôs esses obstáculos e, serenamente, dominou todos os estágios de meditação. Como fez isso? As escrituras dizem apenas que ele permaneceu imóvel diante das investidas de Mara. Mas há uma pista nas técnicas para lidar com esses conteúdos mentais.
Uma delas é a meditação de ponto único. Nela, a observação concentra-se em um objeto específico (a respiração, por exemplo), controlando ou suspendendo temporariamente o fluxo dispersivo de pensamentos.
Assim, Sidarta tornou-se um Buda numa noite de lua cheia no mês de maio, quando tinha 35 anos. Buda não é um nome próprio, mas uma palavra em sânscrito que significa “o Desperto” ou “o Iluminado”. Esse título passou a definir a condição de Sidarta Gautama e ficou ligado ao seu nome, da mesma maneira como o título de Cristo (“Salvador”) associou-se ao nome de Jesus.
O detalhamento dessa experiência sob a figueira tornou-se o corpo dos seus ensinamentos, cuja essência é não fazer o mal, praticar o bem e purificar a mente. Buda ampliou o conhecimento sobre a mente humana e acreditava ter descoberto uma verdade profunda que lhe permitiu viver grande transformação interior e conquistar a imunidade ao sofrimento. Depois da sua iluminação, passou 45 anos ensinando outras pessoas a fazer o mesmo e organizou comunidades de monges só homens. No início, o próprio Buda não era favorável à admissão de mulheres em sua ordem. Parece que sua preocupação era com a dispersão que a presença delas pudesse representar em uma comunidade que tinha como um de seus pilares o total controle dos desejos. Mas acabou mudando de idéia.
A grande novidade trazida por Buda em sua época foi a idéia de que a vida espiritual, como capacidade de conhecer a si mesmo, não tem nada a ver com as restrições de casta impostas pelos brâmanes. Foi um salto e tanto para a estrutura social da Índia, que aceitou prontamente essa religião tolerante. Buda diz que todos os seres humanos têm vislumbres de iluminação. Isso acontece nos momentos em que aquele insistente e auto-referente “eu” não interfere, quando a mente não se prende ao passado, não sonha com o futuro e se envolve apenas com o momento presente. Esses vívidos momentos de ligação com o aqui-e-agora contrastam com a mente habitual. Eles surgem como relances fugidios, mas podem também ser voluntariamente induzidos pelo processo meditativo. Aí está o fim do sofrimento, a iluminação, o nirvana.
A essência dos ensinamentos budistas está nas práticas meditativas, que se fundam em tradições anteriores ao próprio Buda. Na meditação busca-se cessar a atividade mental ininterrupta, na qual pensamentos e fantasias bloqueiam a experiência direta e intuitiva. Na maior parte do tempo alimentamos pensamentos que podem nos deixar ansiosos, frustrados, com mágoa, raiva, ressentimento ou medo. Tragada por esse vórtice de sensações, nossa atenção perde o foco. É por isso que, muitas vezes, comemos sem sentir o sabor do alimento, olhamos uma pessoa sem vê-la de fato. Por quase meio século, Buda viveu cercado de multidões às quais receitava antídotos para essa dispersão, como a chamada “atenção plena”, prática que consiste em dispensar o máximo de atenção a tudo o que se faz – e que está na base de várias técnicas meditativas.
Buda morreu por volta de 483 a.C., depois de um acesso de disenteria que teria sido causado pela ingestão de carne de porco. Há algo menos divino – ou tão demasiadamente humano – do que morrer de dor de barriga? Sua doutrina foi transmitida através de numerosas linhagens de mestres que se espalharam por vários países. Quando morreu, seus ensinamentos estavam bem estabelecidos na região central da Índia. Havia muitos seguidores leigos, mas o coração da comunidade eram os monges mendicantes, os bhiksus. Sua doutrina se espalhou por uma poderosa rede de mosteiros e tomou diversas formas, adaptando-se a diferentes situações históricas e culturais. Essa característica flexível do Budismo seria determinante para sua difusão. Por ser ele mesmo mutável e impermanente, oBudismo tem um mecanismo interno que barra o fundamentalismo – risco presente em outras religiões, cuja história está manchada de sangue.
“Não deveis aceitar nada por ouvir falar, tampouco porque está nas escrituras”, disse Buda em um discurso. Como sua ênfase é a compaixão, o Budismo não define a si mesmo como solução melhor que qualquer outra. O Budismo primitivo, a rigor, nem era uma religião, mas um conjunto de práticas morais e mentais. No que diz respeito à meditação, essas práticas podem ser vistas como simples técnicas, que não implicam em compromisso com nenhum tipo de religiosidade.
Como resultado da sua expansão, cerca de 300 anos depois da morte de Buda, o Budismo já se dividia em 18 escolas. Seus ensinamentos, mantidos por transmissão oral, agora estavam escritos. Vários concílios foram organizados para dar homogeneidade às escrituras das diversas escolas. Um deles, realizado no século III a.C., resultou no chamado Cânone Páli, o registro mais antigo dos ensinamentos budistas. Pouco depois, o Budismo dividiu-se em duas tradições, cada uma delas afirmando-se como possuidora do verdadeiro sentido da palavra de Buda. A tradição Theravada, ou “à maneira dos antigos”, que se baseava exclusivamente nos textos escritos na língua páli, espalhou-se pelo sudeste da Ásia. Para o praticante Theravada, Buda não era um deus, mas sim um grande sábio. O objetivo do caminho Theravada é iluminação individual.
A outra tradição é a Mahayana (literalmente “Grande Veículo”), que se instalou sobretudo na China, Coréia e Japão. A base de seus ensinamentos também está na prática da meditação. No BudismoMahayana, porém, Buda já não é apenas um sábio, mas uma divindade reverenciada. Assim como os chamados bodhisatvas, seres considerados iluminados, que adiam sua entrada no nirvana para poder ajudar na iluminação de outros. Foi no âmbito das escolas Mahayana que mais se desenvolveram os aspectos sobrenaturais e imaginários do Budismo. Sidarta, ou Buda Sakiyamuni, jamais se apresentou como um enviado, salvador ou reencarnação de quem quer que fosse. Nos seus discursos não há referência sequer ao fato de que existe reencarnação. Ele não disse palavra a favor ou contra a idéia de Deus.
O conceito de buda já não se restringia a Sidarta, o Buda Sakyamuni. Passou a definir um princípio fundamental de iluminação espiritual. Sakyamuni já não era mais “o” buda, mas sim “um” buda. As tradições orientais sustentam que houve muitos budas no passado e que ainda haverá muitos outros no futuro. Ampliando o conceito de que há tantos budas quanto grãos de areia, esse Budismo pop expandiu-se amigavelmente pelo Oriente, incorporando uma infinidade de arquétipos ou divindades locais. (Ao contrário das religiões abraâmicas, que demonizaram os deuses das culturas dominadas. Leia mais sobre isso na pág. 55.) Isso explica por que existem tantas imagens diferentes do Iluminado. Quando ele é representado como um asceta esquelético, refere-se ao Sidarta da fase pré-Buda. Quando mostrado como um meditador sereno, é o Buda Sakyamuni.
Se a figura for a de um sujeito gorducho e sorridente, quase sempre trata-se de uma divindade local, geralmente símbolo de prosperidade, na China e no Japão. O mesmo ocorre com os dhianybudas, ou budas da meditação, aos quais se atribuem significados ocultos. Ou com as 21 belas figuras da jovem Tara – representação do aspecto feminino e compassivo de Buda, cultuada na tradição tibetana. Também vêm do Tibete as famosas imagens de budas em abraços sexuais com suas consortes, um símbolo da unidade entre iluminação e sabedoria.
Apesar do grande florescimento que teve em sua terra natal, o Budismo foi varrido da Índia em decorrência das invasões dos hunos no século V d.C. e dos islâmicos nos séculos XII e XIII. A corrente que mais se expandiu foi a Mahayana, por ser menos ortodoxa que a Theravada. O maior desenvolvimento do Budismo aconteceu na China, onde chegou no século I d.C., e, depois, na Coréia e no Japão. Seu encontro com as tradições chinesas deu origem à escola de meditação Ch’an e, mais tarde, no Japão, ao Zen Budismo. “Zen” é uma palavra japonesa derivada do chinês ch’an, que vem do sânscrito dhyana – técnica que, segundo a psicologia do yoga, conduz a um elevado estado de consciência em que o homem une-se com o universo. Os chineses preferiram encontrar essa união no trabalho cotidiano, em vez de na meditação solitária numa floresta, como o próprio Sidarta.
O Zen é um dos mais importantes herdeiros da vertente Mahayana -– só equiparado pela corrente Vajrayana, que se desenvolveu no Tibete. Chamado de “Caminho do Diamante”, o Vajrayana tem suas origens encravadas em textos budistas do século II, registrados nos chamados tantras, escrituras esotéricas sobre a transformação da mente através de meditações, visualizações e ritos. Essa linha surgiu no norte da Índia há cerca de 2 000 anos e hoje é seguida pela tradição tibetana.
Budismo só penetraria no Ocidente a partir do século XIX, com o estudo das culturas da Índia e a publicação de O Mundo como Vontade e Idéia. Nesse livro, o alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), que influenciaria muitos outros filósofos, como Friedrich Nietzsche, mergulha nos ensinamentos budistas. O Budismo também chegou à Europa e à América junto com os imigrantes chineses e, depois, japoneses. Mas foi somente com a chegada de mestres Zen, nos anos 30 do século XX, que algumas das principais idéias budistas começariam a ter maior difusão ocidental. Para a mentalidade judaico-cristã, que tem sua solução religiosa na pessoa externa de um pai divino, um grande motivo de estranhamento – e de fascínio – causado pelo Budismo talvez seja a idéia de um caminho espiritual que depende, em última instância, apenas do esforço de cada pessoa. O Budismo sustenta que o mundo é uma projeção da mente e que, portanto, o homem não poderá encontrar no exterior aquilo que não possua dentro de si mesmo.
Nos anos 40 e 50, os livros sobre Zen escritos pelo inglês Alan W. Watts (1915-1973) influenciaram os escritores da geração beat, como Jack Kerouac e Allen Ginsberg, gurus dos movimentos que iriam chacoalhar os anos 60, como a contracultura e os hippies. Com a invasão do Tibete pela China, em 1959, e a Guerra do Vietnã, nos anos 60, mestres budistas desses países migraram para o Ocidente, onde abriram vários centros de meditação. Estava traçado o caminho que levaria o Budismo para a Califórnia e os estúdios de Hollywood, atraindo adeptos de classe média alta, além de muitos artistas e terapeutas. Diferentemente do que aconteceu na primeira metade do século XX, quando Zen era sinônimo de Budismo no Ocidente, nas últimas décadas o ramo que mais se difundiu foi o Budismotântrico do Tibete. Algo que ajudou muito nessa divulgação foi a figura sorridente do Dalai Lama, líder do Tibete no exílio, que já era famoso bem antes de ganhar o Prêmio Nobel da Paz em 1989, de dançar no palco com a banda de punk-rap Beastie
Boys em shows pela libertação do Tibete, ou de percorrer o mundo falando de espiritualidade. Inclusive no Brasil, onde um dos organizadores de suas visitas é o gaúcho Alfredo Aveline, ou lama Padma Santem (lama é a palavra em tibetano para “mestre espiritual”). Aveline dá uma pista de como essa linha espiritual pode ajudar o homem do século XXI, ao falar da importância do desapego como uma forma de evitar o sofrimento: “A impermanência paira sobre sua cabeça nas relações, no emprego, na sua saúde, no seu endereço, no seu celular, na sua aparência, nas suas aptidões, no afeto. Essa é a vida a que todos estão submetidos. No Budismo, o objetivo é ultrapassar essas limitações. Não estamos dizendo que buscamos distância dessa experiência limitada, mas nosso objetivo é libertarmo-nos dos processos sutis que a criam para ajudar os outros seres a fazer o mesmo e superar as frustrações inevitáveis do processo”.
Dizem que Buda previu que sua ordem duraria muito menos se tivesse a participação de mulheres. Se realmente fez isso, talvez esteja aí um raro equívoco cometido pelo Iluminado. Hoje o que se vê é uma presença cada vez maior de mulheres na pregação da sua doutrina. Às vezes, numa mesma semana na capital paulista, quatro mulheres budistas de diferentes escolas e linhagens costumam atrair grande público para suas palestras: a inglesa Lama Caroline, da escola tibetana Gelupa; a americana Lama Tsering, da escola tibetana Ningma; a monja chinesa Chueh Chen, da escola Ch’an; e a brasileira monja Coen, formada nas tradições japonesas do Soto Zen. Quem quiser entender por que o Budismo exerce tanta atração no Ocidente precisa ver como elas consquistam sua audiência, geralmente de jovens, em torno da idéia da compaixão.
“Houve uma geração que quebrou todos os seus valores e hoje mergulha na busca espiritual”, diz a monja Cláudia Coen, que todos os dias orienta grupos de meditação em São Paulo. “Como as técnicas funcionam independentemente da religião de quem as pratica, tem despertado o interesse também de judeus, cristãos e muçulmanos.”
Mas, afinal, o que fez o Budismo ser tão bem-aceito no Ocidente? Numa palavra, poder-se-ia dizer que é seu caráter de auto-ajuda, conceito que, nesse caso, nada tem a ver com manuais de comportamento, mas sim com a certeza de que todas as respostas para os problemas do homem estão dentro dele mesmo.

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