Filósofo com Especialização em Neurociências e Física da Consciência. Professor de Filosofia, Projeto de Vida e Sociologia no Colégio Souza Leão. Narrador e Plantão Esportivo da Rádio Jornal. Recife-PE.
terça-feira, 29 de abril de 2014
domingo, 27 de abril de 2014
Parábola do Mau Rico - Visão Espírita
Por Paulo da Silva Neto Sobrinho
A rigor não poderíamos usar a expressão “na visão espírita”, porquanto, não temos procuração para falar em nome da Doutrina; por isso rogamos ao leitor que a entenda como sendo a visão particular de um espírita, estudioso da Bíblia, da parábola em questão.
Sabemos da possibilidade de muitos dos cristãos tradicionais não vierem a gostar do que iremos falar; entretanto, rogamos que sejam condescendentes conosco, pois estamos apenas usando da faculdade da “Livre interpretação da Bíblia”, defendida por Martinho Lutero (1483-1546) e também por João Calvino (1509-1564), o que nos dá, obviamente, o direito de interpretá-la sob a ótica da crença religiosa que abraçamos.
Em A Gênese, Kardec, falando sobre essa questão, disse:
Mas quem ousa permitir-se interpretar as Escrituras Sagradas? Quem tem esse direito? Quem possui as luzes necessárias, senão os teólogo
Quem ousa? A ciência, primeiro, que não pede permissão a ninguém para dar a conhecer as leis da Natureza, e salta, de pés juntos, sobre os erros e os preconceitos. Quem tem esse direito? Neste século de emancipação intelectual e de liberdade de consciência, o direito de exame pertence a todo mundo, e as Escrituras não são mais a arca santa, na qual ninguém ousava tocar os dedos sem o risco de ser fulminado. […] (KARDEC, 2007e, p 36) (grifo nosso).
Então, se nos permitem, vamos à nossa interpretação do texto da parábola do mau rico e o pobre Lázaro, narrada no Evangelho de Lucas:
Lc 16,19-31: “Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino e cada dia se banqueteava com requinte. Um pobre, chamado Lázaro, jazia à sua porta, coberto de úlceras. Desejava saciar-se do que caía da mesa do rico... E até os cães vinham lamber-lhe as úlceras. Aconteceu que o pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. Na mansão dos mortos, em meio a tormentos, levantou os olhos e viu ao longe Abraão e Lázaro em seu seio. Então exclamou: 'Pai Abraão, tem piedade de mim e manda que Lázaro molhe a ponta do dedo para me refrescar a língua, pois estou torturado nesta chama'. Abraão respondeu: 'Filho, lembra-te de que recebeste teus bens durante tua vida, e Lázaro por sua vez os males; agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado. E além do mais, entre nós e vós existe um grande abismo, a fim de que aqueles que quiserem passar daqui para junto de vós não o possam, nem tampouco atravessem de lá até nós'. Ele replicou: 'Pai, eu te suplico, envia então Lázaro até à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos; que leve a eles seu testemunho, para que não venham eles também para este lugar de tormento'. Abraão, porém, respondeu: 'Eles têm Moisés e os Profetas; que os ouçam'. Disse ele: 'Não, pai Abraão, mas se alguém dentre os mortos for procurá-los, eles se arrependerão'. Mas Abraão lhe disse: 'Se não escutam nem a Moisés nem aos Profetas, mesmo que alguém ressuscite dos mortos, não se convencerão'".
O primeiro ponto que destacamos no texto é o fato de que, por ele, pode-se concluir que a alma conserva sua individualidade após a morte, o que comprova o acerto da resposta dos Espíritos a Kardec sobre isso:
150. Após a morte, a alma conserva a sua individualidade?
“Sim; jamais a perde. Que seria ela, se não a conservasse?
150-a. Como a alma constata a sua individualidade, uma vez que não tem mais o corpo material?
“Ela tem ainda um fluido que lhe é próprio, haurido na atmosfera do seu planeta e que representa a aparência de sua última encarnação: seu perispírito.
(KARDEC, 2006, p. 143-144).
Visando tornar mais fácil a apresentação de nossas considerações ao texto bíblico, iremos destacar dele os trechos, que julgamos importantes para análise.
a) “Aconteceu que o pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão”.
Os anjos representam os espíritos que, no mundo espiritual, cuidam daqueles que estão no limiar do portal para sair do mundo físico. São, como se diz, “gente como a gente”; apenas que estão fora da carne e num estágio evolutivo superior ao nosso, o que lhes permite ajudarem-nos no trespasse de volta à nossa origem.
Sobre os anjos, temos as seguintes informações dos Espíritos superiores:
128. Os seres a que chamamos anjos, arcanjos, serafins, formam uma categoria especial, de natureza diferente da dos outros Espíritos?
“Não; são Espíritos puros: os que se acham no mais alto grau da escala e reúnem todas as perfeições.”
Kardec: A palavra anjo desperta geralmente a idéia de perfeição moral. Entretanto, ela se aplica muitas vezes à designação de todos os seres, bons e maus, que estão fora da Humanidade. Diz-se: o anjo bom e o anjo mau; o anjo de luz e o anjo das trevas. Neste caso, o termo é sinônimo de Espírito ou de gênio. Tomamo-lo aqui na sua melhor acepção.
129. Os anjos hão percorridos todos os graus da escala?
“Percorreram todos os graus, mas do modo que havemos dito: uns, aceitando sem murmurar suas missões, chegaram depressa; outros, gastaram mais ou menos tempo para chegar à perfeição.”
(KARDEC, 2006, p. 130).
No texto bíblico, eles, os anjos, são os espíritos que participaram do processo de desencarnação de Lázaro e depois o levaram para onde se encontrava Abraão. Os Espíritos puros, passaram, como todos irão passar, pelo ciclo de reencarnações para progredirem, sem qualquer tipo de privilégio. Entre eles podemos, inclusive, encontrar alguns parentes desencarnados, porquanto os laços de amor jamais se rompem com a morte.
O que os Espíritos superiores informaram a Kardec nos ajudará a entender isso:
285. Os Espíritos se reconhecem por terem convivido na Terra? O filho reconhece o pai, o amigo reconhece o seu amigo?
“Sim, e assim de geração em geração.”
285-a. Como se reconhecem no mundos dos Espíritos os homens que se conheceram na Terra?
“Vemos a nossa vida pretérita e lemos nela como num livro. Vendo o pretérito dos nossos amigos e dos nossos inimigos, aí vemos a sua passagem da vida para a morte.”
286. Ao deixar os seus despojos mortais, a alma vê imediatamente os parentes e amigos que a precederam n o mundo dos Espíritos?
“Nem sempre imediatamente. Como já dissemos, ela precisa de algum tempo para reconhecer-se e desembaraçar-se do véu material.”
289. Nossos parentes e amigos vêm, algumas vezes, encontrar-se conosco quando deixamos a Terra?
“Sim, os Espíritos vão ao encontro da alma a que se afeiçoaram. Felicitam-na, como se regressasse de uma viagem, por haver escapado aos perigos da estrada, e ajudam-na a desprender-se dos laços corporais. É uma graça concedida aos bons Espíritos quando os seres que os amam vêm ao seu encontro, ao passo que aquele que se acha maculado permanece no isolamento ou só tem a rodeá-lo os que lhe são semelhantes. É uma punição.”
290. Os parentes e amigos sempre se reúnem depois da morte?
“Depende de sua elevação e do caminho que seguem para progredir. Se um deles está mais adiantado e caminha mais depressa do que outro, não poderão ficar juntos; é possível que se vejam algumas vezes, mas só estarão reunidos para sempre quando puderem caminhar lado a lado, ou quando se houverem igualado na perfeição. Além disso, a privação de ver os parentes e amigos é, às vezes, uma punição.”
(KARDEC, 2006, p. 219-220).
Abraão, que, na cultura judaica, era reverenciado como “nosso pai Abraão”, representa, por sua vez, os nossos parentes já desencarnados que, segundo o nosso merecimento, iremos encontrá-los, ao retornamos à nossa pátria espiritual, o que se pode comprovar nas questões de O Livro dos Espíritos, logo acima e com esta que consta na obra O que é o Espiritismo:
153. Encontra a alma no mundo dos Espíritos os parentes que ali a precederam?
Não só os encontra, como também a outros muitos, seus conhecidos de outras existências. Geralmente, aqueles que mais a amam vêm recebê-la à sua chegada no mundo espiritual, e ajudam-na a desprender-se dos laços terrenos. Entretanto, a privação de ver as almas mais caras é, algumas vezes, punição para os culpados.
(KARDEC, 2001, p. 212).
Ainda podemos acrescentar essa outra fala de Kardec, constante da Revista Espírita 1859:
O instante em que um deles vê cessar sua escravidão, pela ruptura dos laços que o retêm ao corpo, é um instante solene; em sua reentrada no mundo dos Espíritos, é acolhido por seus amigos, que vêm recebê-lo como no retorno de uma penosa viagem; se a travessia foi feliz, quer dizer, se o tempo de exílio foi empregado de modo proveitoso, por ele, e o eleva na hierarquia do mundo dos Espíritos, felicitam-no; aí reencontra àqueles que conheceu, mistura-se àqueles que o amam e simpatizam com ele, e então começa, verdadeiramente, para ele, sua nova existência. (KARDEC, 1859e, p. 87) (grifo nosso).
Certamente, que os laços de amor, que nos unem a parentes e amigos, continuam no “além da vida”.
b) “Morreu também o rico e foi sepultado”.
Considerando que tanto os bons quanto os maus morrem, isso nos leva a concluir que a morte não pode ser vista, pela ótica em que geralmente se acredita, como sendo um castigo de Deus à humanidade por conta do “original” pecado de Adão e Eva, até mesmo porque os animais, que nada têm a ver com essa história, também morrem. A morte, portanto, é uma lei natural, sob a qual todos os seres vivos estão sujeitos, sem exceção alguma.
Diferente do que aconteceu com Lázaro, o rico não teve merecimento para ser recebido pelos anjos (espíritos) e nem o de ser levado ao encontro de parentes que o antecederam à morte. Certamente, que aqui vale esta assertiva de Jesus: “a cada um segundo suas obras” (Mt 16,27).
c) “Na mansão dos mortos, em meio a tormentos, levantou os olhos e viu ao longe Abraão e Lázaro em seu seio”.
Algo bem interessante encontramos aqui. Trata-se de perceber que, naquela época de Jesus, acreditava-se em “mansão dos mortos” e não em “céu e inferno”, como às vezes nos querem fazer crer alguns teólogos.
E, segundo essa crença, para lá iam todos os espíritos desencarnados, fossem eles bons ou maus.
Observe, caro leitor, que o texto está afirmando que o rico viu ao longe Abraão e Lázaro, fato que prova estarem ambos no mesmo local, ou melhor, na mesma região espiritual.
Bart D. Ehrmann (1955- ), Ph.D em teologia pela Universidade de Princeton e professor de estudos religiosos na Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, considerado um dos maiores especialistas em Novo Testamento da atualidade, dá-nos notícias dessa crença:
[…] O que surge é a crença em céu e inferno, uma crença não encontrada nos ensinamentos de Jesus ou Paulo, mas inventada tempos depois por cristãos que se deram conta de que o Reino de Deus nunca seria implantado nesta Terra. Essa crença se tornou um ensinamento básico cristão, o mundo sem-fim. (EHRMAN, 2010, p. 286) (grifo nosso).
Essa informação, vem corroborar o que dissemos.
Para nós, os espíritas, ambos estariam, certamente, no Umbral, região espiritual que circunda a Terra, como se fosse um campo de força, no qual se encontram retidos todos os espíritos, que ainda estão vinculados ao grau evolutivo que ela comporta, condição que não lhes permite irem para outros mundos. Assim, permanecem vinculados a ela, onde passarão por novas experiências em novas reencarnações, até conquistarem o grau de evolução máximo que se pode nela alcançar.
Para explicar como é possível os bons e os maus conviverem, ao mesmo tempo, no Umbral, trazemos a seguinte questão de O Livro dos Espíritos:
278. Os Espíritos das diferentes ordens estão misturados uns com os outros?
“Sim e não; quer dizer: eles se vêem, mas se distinguem uns dos outros. Eles se evitam ou se aproximam, segundo a analogia ou a antipatia de seus sentimentos, tal como acontece entre vós. É todo um mundo, do qual o vosso é pálido reflexo. Os da mesma categoria se reúnem por uma espécie de afinidade e formam grupos ou famílias, unidos pelos laços da simpatia e pelos fins a que visam: os bons, pelo desejo de fazerem o bem; os maus, pelo de fazerem o mal, pela vergonha de suas faltas e pela necessidade de se acharem entre seres semelhantes a eles.”
Kardec: Tal uma grande cidade onde os homens de todas as classes e de todas as condições se vêem e se encontram, sem se confundirem; onde as sociedades se formam pela analogia dos gostos; onde o vício e a virtude convivem lado a lado sem se falarem.
(KARDEC, 2006, p. 217).
Com essas explicações fica mais fácil o entendimento dessa situação.
d) "E além do mais, entre nós e vós existe um grande abismo, a fim de que aqueles que quiserem passar daqui para junto de vós não o possam, nem tampouco atravessem de lá até nós'”.
Podemos interpretar esse “grande abismo” de duas maneiras: a primeira, é em relação à evolução espiritual de cada um e a segunda diz respeito à vibração que cada espírito emite. No primeiro caso, somente através da reencarnação é que um espírito pode atingir a evolução espiritual de um outro, momento em que ambos passarão a estar no mesmo nível. Quanto à questão vibracional, sabe-se que os bons podem ir a qualquer lugar, enquanto que os maus ficarão restritos a certos lugares. Vejamos:
279. Todos os Espíritos têm livre acesso a qualquer região?
“Os bons vão a toda parte, e assim deve ser, para que possam exercer sua influência sobre os maus. Mas as regiões habitadas pelos bons são interditadas aos Espíritos imperfeitos, a fim de não as perturbarem com suas paixões inferiores.”
(KARDEC, 2006, p. 217).
Então, por esse prisma, a faixa da dimensão espiritual da mansão dos mortos, onde se encontrava Lázaro, era interditada ao rico.
e) “Ele replicou: 'Pai, eu te suplico, envia então Lázaro até à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos; que leve a eles seu testemunho, para que não venham eles também para este lugar de tormento'”.
Nesse trecho, encontramos duas coisas; uma delas diz respeito à crença de que os mortos podem se comunicar com o vivos, razão do pedido do rico; a outra nos remete ao fato de que os “mortos” não deixam de se preocuparem com os vivos. Isso pode ser confirmado com essa transcrição da obra O que é o Espiritismo:
151. Conserva a alma as afeições que tinha na vida terrena?
Guarda todas as afeições morais e só esquece as materiais, que já não são de sua essência; por isso vêem satisfeita ver os parentes e amigos e sentem-se feliz com a lembrança deles. […].
(KARDEC, 2001, p. 211).
Assim, se se romperem os laços de amor, que temos para com os parentes e amigos, não há sentido algum em ter vida após a morte.
E não podemos deixar de observar que o rico, ainda que desumano em relação às necessidades materiais do pobre, preocupou-se com seus seus cinco irmãos, não queira que eles fosse para o lugar onde se encontrava. O amor é algo que existe no imo de todos nós, ainda que, por egoísmo, só o dediquemos aos parentes próximos.
f) “Abraão, porém, respondeu: 'Eles têm Moisés e os Profetas; que os ouçam'. Disse ele: 'Não, pai Abraão, mas se alguém dentre os mortos for procurá-los, eles se arrependerão'. Mas Abraão lhe disse: 'Se não escutam nem a Moisés nem aos Profetas, mesmo que alguém ressuscite dos mortos, não se convencerão'".
Interessante é que Abraão não disse que não havia possibilidade de Lázaro avisar aos irmãos do rico, o que comprovaria não existir a comunicação entre os vivos e os mortos. Em sua resposta, ele, na verdade, afirma da inutilidade de tal coisa, pois como os irmãos do rico não ouviam os vivos, no caso, Moisés e os profetas, muito menos ouviriam os mortos. Fato incontestável é que isso, inclusive, acontece até nos dias de hoje, onde se vê uma grande maioria de crentes que não acredita no que os espíritos dizem, provando, portanto, que Abraão estava coberto de razão.
Paulo da Silva Neto Sobrinho
Jan/2012
A rigor não poderíamos usar a expressão “na visão espírita”, porquanto, não temos procuração para falar em nome da Doutrina; por isso rogamos ao leitor que a entenda como sendo a visão particular de um espírita, estudioso da Bíblia, da parábola em questão.
Sabemos da possibilidade de muitos dos cristãos tradicionais não vierem a gostar do que iremos falar; entretanto, rogamos que sejam condescendentes conosco, pois estamos apenas usando da faculdade da “Livre interpretação da Bíblia”, defendida por Martinho Lutero (1483-1546) e também por João Calvino (1509-1564), o que nos dá, obviamente, o direito de interpretá-la sob a ótica da crença religiosa que abraçamos.
Em A Gênese, Kardec, falando sobre essa questão, disse:
Mas quem ousa permitir-se interpretar as Escrituras Sagradas? Quem tem esse direito? Quem possui as luzes necessárias, senão os teólogo
Quem ousa? A ciência, primeiro, que não pede permissão a ninguém para dar a conhecer as leis da Natureza, e salta, de pés juntos, sobre os erros e os preconceitos. Quem tem esse direito? Neste século de emancipação intelectual e de liberdade de consciência, o direito de exame pertence a todo mundo, e as Escrituras não são mais a arca santa, na qual ninguém ousava tocar os dedos sem o risco de ser fulminado. […] (KARDEC, 2007e, p 36) (grifo nosso).
Então, se nos permitem, vamos à nossa interpretação do texto da parábola do mau rico e o pobre Lázaro, narrada no Evangelho de Lucas:
Lc 16,19-31: “Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino e cada dia se banqueteava com requinte. Um pobre, chamado Lázaro, jazia à sua porta, coberto de úlceras. Desejava saciar-se do que caía da mesa do rico... E até os cães vinham lamber-lhe as úlceras. Aconteceu que o pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. Na mansão dos mortos, em meio a tormentos, levantou os olhos e viu ao longe Abraão e Lázaro em seu seio. Então exclamou: 'Pai Abraão, tem piedade de mim e manda que Lázaro molhe a ponta do dedo para me refrescar a língua, pois estou torturado nesta chama'. Abraão respondeu: 'Filho, lembra-te de que recebeste teus bens durante tua vida, e Lázaro por sua vez os males; agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado. E além do mais, entre nós e vós existe um grande abismo, a fim de que aqueles que quiserem passar daqui para junto de vós não o possam, nem tampouco atravessem de lá até nós'. Ele replicou: 'Pai, eu te suplico, envia então Lázaro até à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos; que leve a eles seu testemunho, para que não venham eles também para este lugar de tormento'. Abraão, porém, respondeu: 'Eles têm Moisés e os Profetas; que os ouçam'. Disse ele: 'Não, pai Abraão, mas se alguém dentre os mortos for procurá-los, eles se arrependerão'. Mas Abraão lhe disse: 'Se não escutam nem a Moisés nem aos Profetas, mesmo que alguém ressuscite dos mortos, não se convencerão'".
O primeiro ponto que destacamos no texto é o fato de que, por ele, pode-se concluir que a alma conserva sua individualidade após a morte, o que comprova o acerto da resposta dos Espíritos a Kardec sobre isso:
150. Após a morte, a alma conserva a sua individualidade?
“Sim; jamais a perde. Que seria ela, se não a conservasse?
150-a. Como a alma constata a sua individualidade, uma vez que não tem mais o corpo material?
“Ela tem ainda um fluido que lhe é próprio, haurido na atmosfera do seu planeta e que representa a aparência de sua última encarnação: seu perispírito.
(KARDEC, 2006, p. 143-144).
Visando tornar mais fácil a apresentação de nossas considerações ao texto bíblico, iremos destacar dele os trechos, que julgamos importantes para análise.
a) “Aconteceu que o pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão”.
Os anjos representam os espíritos que, no mundo espiritual, cuidam daqueles que estão no limiar do portal para sair do mundo físico. São, como se diz, “gente como a gente”; apenas que estão fora da carne e num estágio evolutivo superior ao nosso, o que lhes permite ajudarem-nos no trespasse de volta à nossa origem.
Sobre os anjos, temos as seguintes informações dos Espíritos superiores:
128. Os seres a que chamamos anjos, arcanjos, serafins, formam uma categoria especial, de natureza diferente da dos outros Espíritos?
“Não; são Espíritos puros: os que se acham no mais alto grau da escala e reúnem todas as perfeições.”
Kardec: A palavra anjo desperta geralmente a idéia de perfeição moral. Entretanto, ela se aplica muitas vezes à designação de todos os seres, bons e maus, que estão fora da Humanidade. Diz-se: o anjo bom e o anjo mau; o anjo de luz e o anjo das trevas. Neste caso, o termo é sinônimo de Espírito ou de gênio. Tomamo-lo aqui na sua melhor acepção.
129. Os anjos hão percorridos todos os graus da escala?
“Percorreram todos os graus, mas do modo que havemos dito: uns, aceitando sem murmurar suas missões, chegaram depressa; outros, gastaram mais ou menos tempo para chegar à perfeição.”
(KARDEC, 2006, p. 130).
No texto bíblico, eles, os anjos, são os espíritos que participaram do processo de desencarnação de Lázaro e depois o levaram para onde se encontrava Abraão. Os Espíritos puros, passaram, como todos irão passar, pelo ciclo de reencarnações para progredirem, sem qualquer tipo de privilégio. Entre eles podemos, inclusive, encontrar alguns parentes desencarnados, porquanto os laços de amor jamais se rompem com a morte.
O que os Espíritos superiores informaram a Kardec nos ajudará a entender isso:
285. Os Espíritos se reconhecem por terem convivido na Terra? O filho reconhece o pai, o amigo reconhece o seu amigo?
“Sim, e assim de geração em geração.”
285-a. Como se reconhecem no mundos dos Espíritos os homens que se conheceram na Terra?
“Vemos a nossa vida pretérita e lemos nela como num livro. Vendo o pretérito dos nossos amigos e dos nossos inimigos, aí vemos a sua passagem da vida para a morte.”
286. Ao deixar os seus despojos mortais, a alma vê imediatamente os parentes e amigos que a precederam n o mundo dos Espíritos?
“Nem sempre imediatamente. Como já dissemos, ela precisa de algum tempo para reconhecer-se e desembaraçar-se do véu material.”
289. Nossos parentes e amigos vêm, algumas vezes, encontrar-se conosco quando deixamos a Terra?
“Sim, os Espíritos vão ao encontro da alma a que se afeiçoaram. Felicitam-na, como se regressasse de uma viagem, por haver escapado aos perigos da estrada, e ajudam-na a desprender-se dos laços corporais. É uma graça concedida aos bons Espíritos quando os seres que os amam vêm ao seu encontro, ao passo que aquele que se acha maculado permanece no isolamento ou só tem a rodeá-lo os que lhe são semelhantes. É uma punição.”
290. Os parentes e amigos sempre se reúnem depois da morte?
“Depende de sua elevação e do caminho que seguem para progredir. Se um deles está mais adiantado e caminha mais depressa do que outro, não poderão ficar juntos; é possível que se vejam algumas vezes, mas só estarão reunidos para sempre quando puderem caminhar lado a lado, ou quando se houverem igualado na perfeição. Além disso, a privação de ver os parentes e amigos é, às vezes, uma punição.”
(KARDEC, 2006, p. 219-220).
Abraão, que, na cultura judaica, era reverenciado como “nosso pai Abraão”, representa, por sua vez, os nossos parentes já desencarnados que, segundo o nosso merecimento, iremos encontrá-los, ao retornamos à nossa pátria espiritual, o que se pode comprovar nas questões de O Livro dos Espíritos, logo acima e com esta que consta na obra O que é o Espiritismo:
153. Encontra a alma no mundo dos Espíritos os parentes que ali a precederam?
Não só os encontra, como também a outros muitos, seus conhecidos de outras existências. Geralmente, aqueles que mais a amam vêm recebê-la à sua chegada no mundo espiritual, e ajudam-na a desprender-se dos laços terrenos. Entretanto, a privação de ver as almas mais caras é, algumas vezes, punição para os culpados.
(KARDEC, 2001, p. 212).
Ainda podemos acrescentar essa outra fala de Kardec, constante da Revista Espírita 1859:
O instante em que um deles vê cessar sua escravidão, pela ruptura dos laços que o retêm ao corpo, é um instante solene; em sua reentrada no mundo dos Espíritos, é acolhido por seus amigos, que vêm recebê-lo como no retorno de uma penosa viagem; se a travessia foi feliz, quer dizer, se o tempo de exílio foi empregado de modo proveitoso, por ele, e o eleva na hierarquia do mundo dos Espíritos, felicitam-no; aí reencontra àqueles que conheceu, mistura-se àqueles que o amam e simpatizam com ele, e então começa, verdadeiramente, para ele, sua nova existência. (KARDEC, 1859e, p. 87) (grifo nosso).
Certamente, que os laços de amor, que nos unem a parentes e amigos, continuam no “além da vida”.
b) “Morreu também o rico e foi sepultado”.
Considerando que tanto os bons quanto os maus morrem, isso nos leva a concluir que a morte não pode ser vista, pela ótica em que geralmente se acredita, como sendo um castigo de Deus à humanidade por conta do “original” pecado de Adão e Eva, até mesmo porque os animais, que nada têm a ver com essa história, também morrem. A morte, portanto, é uma lei natural, sob a qual todos os seres vivos estão sujeitos, sem exceção alguma.
Diferente do que aconteceu com Lázaro, o rico não teve merecimento para ser recebido pelos anjos (espíritos) e nem o de ser levado ao encontro de parentes que o antecederam à morte. Certamente, que aqui vale esta assertiva de Jesus: “a cada um segundo suas obras” (Mt 16,27).
c) “Na mansão dos mortos, em meio a tormentos, levantou os olhos e viu ao longe Abraão e Lázaro em seu seio”.
Algo bem interessante encontramos aqui. Trata-se de perceber que, naquela época de Jesus, acreditava-se em “mansão dos mortos” e não em “céu e inferno”, como às vezes nos querem fazer crer alguns teólogos.
E, segundo essa crença, para lá iam todos os espíritos desencarnados, fossem eles bons ou maus.
Observe, caro leitor, que o texto está afirmando que o rico viu ao longe Abraão e Lázaro, fato que prova estarem ambos no mesmo local, ou melhor, na mesma região espiritual.
Bart D. Ehrmann (1955- ), Ph.D em teologia pela Universidade de Princeton e professor de estudos religiosos na Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, considerado um dos maiores especialistas em Novo Testamento da atualidade, dá-nos notícias dessa crença:
[…] O que surge é a crença em céu e inferno, uma crença não encontrada nos ensinamentos de Jesus ou Paulo, mas inventada tempos depois por cristãos que se deram conta de que o Reino de Deus nunca seria implantado nesta Terra. Essa crença se tornou um ensinamento básico cristão, o mundo sem-fim. (EHRMAN, 2010, p. 286) (grifo nosso).
Essa informação, vem corroborar o que dissemos.
Para nós, os espíritas, ambos estariam, certamente, no Umbral, região espiritual que circunda a Terra, como se fosse um campo de força, no qual se encontram retidos todos os espíritos, que ainda estão vinculados ao grau evolutivo que ela comporta, condição que não lhes permite irem para outros mundos. Assim, permanecem vinculados a ela, onde passarão por novas experiências em novas reencarnações, até conquistarem o grau de evolução máximo que se pode nela alcançar.
Para explicar como é possível os bons e os maus conviverem, ao mesmo tempo, no Umbral, trazemos a seguinte questão de O Livro dos Espíritos:
278. Os Espíritos das diferentes ordens estão misturados uns com os outros?
“Sim e não; quer dizer: eles se vêem, mas se distinguem uns dos outros. Eles se evitam ou se aproximam, segundo a analogia ou a antipatia de seus sentimentos, tal como acontece entre vós. É todo um mundo, do qual o vosso é pálido reflexo. Os da mesma categoria se reúnem por uma espécie de afinidade e formam grupos ou famílias, unidos pelos laços da simpatia e pelos fins a que visam: os bons, pelo desejo de fazerem o bem; os maus, pelo de fazerem o mal, pela vergonha de suas faltas e pela necessidade de se acharem entre seres semelhantes a eles.”
Kardec: Tal uma grande cidade onde os homens de todas as classes e de todas as condições se vêem e se encontram, sem se confundirem; onde as sociedades se formam pela analogia dos gostos; onde o vício e a virtude convivem lado a lado sem se falarem.
(KARDEC, 2006, p. 217).
Com essas explicações fica mais fácil o entendimento dessa situação.
d) "E além do mais, entre nós e vós existe um grande abismo, a fim de que aqueles que quiserem passar daqui para junto de vós não o possam, nem tampouco atravessem de lá até nós'”.
Podemos interpretar esse “grande abismo” de duas maneiras: a primeira, é em relação à evolução espiritual de cada um e a segunda diz respeito à vibração que cada espírito emite. No primeiro caso, somente através da reencarnação é que um espírito pode atingir a evolução espiritual de um outro, momento em que ambos passarão a estar no mesmo nível. Quanto à questão vibracional, sabe-se que os bons podem ir a qualquer lugar, enquanto que os maus ficarão restritos a certos lugares. Vejamos:
279. Todos os Espíritos têm livre acesso a qualquer região?
“Os bons vão a toda parte, e assim deve ser, para que possam exercer sua influência sobre os maus. Mas as regiões habitadas pelos bons são interditadas aos Espíritos imperfeitos, a fim de não as perturbarem com suas paixões inferiores.”
(KARDEC, 2006, p. 217).
Então, por esse prisma, a faixa da dimensão espiritual da mansão dos mortos, onde se encontrava Lázaro, era interditada ao rico.
e) “Ele replicou: 'Pai, eu te suplico, envia então Lázaro até à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos; que leve a eles seu testemunho, para que não venham eles também para este lugar de tormento'”.
Nesse trecho, encontramos duas coisas; uma delas diz respeito à crença de que os mortos podem se comunicar com o vivos, razão do pedido do rico; a outra nos remete ao fato de que os “mortos” não deixam de se preocuparem com os vivos. Isso pode ser confirmado com essa transcrição da obra O que é o Espiritismo:
151. Conserva a alma as afeições que tinha na vida terrena?
Guarda todas as afeições morais e só esquece as materiais, que já não são de sua essência; por isso vêem satisfeita ver os parentes e amigos e sentem-se feliz com a lembrança deles. […].
(KARDEC, 2001, p. 211).
Assim, se se romperem os laços de amor, que temos para com os parentes e amigos, não há sentido algum em ter vida após a morte.
E não podemos deixar de observar que o rico, ainda que desumano em relação às necessidades materiais do pobre, preocupou-se com seus seus cinco irmãos, não queira que eles fosse para o lugar onde se encontrava. O amor é algo que existe no imo de todos nós, ainda que, por egoísmo, só o dediquemos aos parentes próximos.
f) “Abraão, porém, respondeu: 'Eles têm Moisés e os Profetas; que os ouçam'. Disse ele: 'Não, pai Abraão, mas se alguém dentre os mortos for procurá-los, eles se arrependerão'. Mas Abraão lhe disse: 'Se não escutam nem a Moisés nem aos Profetas, mesmo que alguém ressuscite dos mortos, não se convencerão'".
Interessante é que Abraão não disse que não havia possibilidade de Lázaro avisar aos irmãos do rico, o que comprovaria não existir a comunicação entre os vivos e os mortos. Em sua resposta, ele, na verdade, afirma da inutilidade de tal coisa, pois como os irmãos do rico não ouviam os vivos, no caso, Moisés e os profetas, muito menos ouviriam os mortos. Fato incontestável é que isso, inclusive, acontece até nos dias de hoje, onde se vê uma grande maioria de crentes que não acredita no que os espíritos dizem, provando, portanto, que Abraão estava coberto de razão.
Paulo da Silva Neto Sobrinho
Jan/2012
quarta-feira, 23 de abril de 2014
segunda-feira, 21 de abril de 2014
segunda-feira, 7 de abril de 2014
A SUBCONSCIÊNCIA NOS FENÔMENOS PSÍQUICOS
Todas as teorias que pretendem elucidar os fenômenos mediúnicos, alheios à Doutrina Espiritista, pecam pela insuficiência e falsidade.
Em vão, procura-se complicar a questão com termos rebuscados, apresentando-se as hipóteses mais descabidas e absurdas, porquanto os conhecimentos hodiernos da Física, da Fisiologia e da Psicologia não explicam fatos como os de levitação, de materialização, de natureza, afinal, genuinamente espírita.
Para a ciência anquilosada nas concepções dogmáticas de cada escola, a fenomenologia mediúnica não deve constituir objeto de ridículo e de zombaria, mas sim um amontoado de materiais preciosos à sua observação.
Felizmente, se muitos dos pesquisadores criaram os mais complicados sistemas elucidativos, cheios de extravagância nas suas enganadoras ilações, alguns deles,
desassombradamente, têm colaborado com a filosofia espiritualista para a consecução dos seus planos grandiosos, que implicam a felicidade humana.
A SUBCONSCIÊNCIA
A subconsciência, tão investigada em vosso tempo, não elucida os problemas dos chamados fenômenos intelectuais. Estudos levados a efeito sobre essa câmara escura da mente são ainda mal orientados, apesar disso, muitas teorias apressadas presumem explicar todo o mediunismo com a sua estranha influência sobre o “eu” consciente.
De fato, existem fenômenos subliminais; todavia, a subconsciência é o acervo de experiências realizadas pelo o ser em suas existências passadas. O Espírito, no labor incessante de suas múltiplas existências, vai ajudando as séries de suas conquistas, de suas possibilidades, de seus trabalhos; no seu cérebro espiritual organiza-se, então, essa consciência profunda, em cujos domínios misteriosos se vão arquivando as recordações, e a alma, em cada etapa da sua vida imortal, renasce para uma nova conquista, objetivando sempre o aperfeiçoamento supremo.
O OLVIDO TEMPORÁRIO
O esquecimento, nessas existências fragmentárias, obedecendo ás leis superiores que presidem ao destino, representa a diminuição do estado vibratório do Espírito, em contacto com a matéria. Esse olvido é necessário,e, afastando-se os benefícios espirituais que essa questão implica, à luz das concepções cientificas, pode esse problemas ser estudado atenciosamente.
Tomando um novo corpo, a alma tem necessidade de adaptar-se a esse instrumento. Precisa abandonar a bagagem dos seus vícios, dos seus defeitos, das suas lembranças nocivas, das suas vicissitudes nos pretéritos tenebrosos. Necessita de nova virgindade; um instrumento virgem lhe é então fornecido. Os neurônios desse novo cérebro fazem a função de aparelhos quebradores da luz; o sensório limita as percepções do Espírito, e , somente assim, pode o ser reconstruir o seu destino. Para que o homem colha benefícios da sua vida temporária, faz-se mister que assim seja.
Sua consciência é apenas a parte emergente da sua consciência espiritual; seus sentidos constituem apenas o necessário à sua evolução no plano terrestre. Daí, a exigüidade das suas percepções visuais e auditivas, em relação ao número inconcebível de vibrações que o cercam.
AS RECORDAÇÕES
Todavia, dentro dessa obscuridade requerida pela sua necessidade de estudo e desenvolvimento, experimenta a alma, ás vezes, uma sensação indefinível... é uma vocação inata que impele para esse ou aquele caminho; é uma saudade vaga e incompreensível, que a persegue nas suas meditações; são os fenômenos introspectivos, que a assediam freqüentemente.
Nesses momentos, uma luz vaga da subconsciência atravessa a câmara de sombras, impostas pelas células cerebrais, e, através dessa luz coada, entra o Espírito em vaga relação com o seu passado longínquo; tais fatos são vulgares nos seres evolvidos, sobre quem a carne já não exerce atuação invencível. Nesses vagos instantes, parece que a alma encarnada ouve o tropel das lembranças que passam em revoada; aversões antigas, amores santificantes, gostos aprimorados, de tudo aparece numa fração no seu mundo consciente; mas, faz-se mister olvidar o passado para que alcance êxito na luta. (Emmanuel, Emmanuel, p.81-83)
sexta-feira, 4 de abril de 2014
Palestra sobre os 157 anos de O Livro dos Espíritos na FEP
A Federação Espírita Pernambucana (FEP), conjuntamente com a Comissão Estadual de Espiritismo (CEE) realizarão Sessão Solene pelos 157 anos de publicação de O Livro dos Espíritos, feita por Allan Kardec, em Paris – França, em 18 de abril de 1857.
Quando: Na sexta-feira, dia 18 de abril de 2014, às 19h00
Onde: Nas dependências da FEP – Avenida João de Barros, 1629 – Espinheiro/Recife – PE
.
A palestra comemorativa será proferida pelo expositor espírita Frederico Menezes que dissertará sobre o tema: O Livro dos Espíritos e a Lei de Justiça de Amor e de Caridade.
Haverá apresentação musical do Coral da FEP.
Compareça e nos honre com sua presença!
terça-feira, 1 de abril de 2014
Fundação da Sociedade Espírita de Paris - 1º de Abril de 1958
Se bem que não haja aqui nenhum fato de previsão, menciono, para memória, a fundação da Sociedade, por causa do papel que desempenhou na marcha do Espiritismo, e das comunicações ulteriores às quais deu lugar.
Em torno de seis meses depois, tinha em minha casa, rua dos Martyrs, uma reunião de alguns adeptos, todas as terças-feiras. O principal médium era a Srta. Dufaux. Se bem que o local não pudesse conter senão 15 a 20 pessoas, às vezes nele se encontravam até 30. Essas reuniões ofereciam um grande interesse pelo seu caráter sério, e a alta importância das questões que ali eram tratadas; freqüentemente, viam-se ali príncipes estrangeiros e outras personagens de distinção.
O local, pouco cômodo pela sua disposição, evidentemente, tornou-se muito exíguo. Alguns, dos freqüentadores, propuseram se cotizar para alugar um mais conveniente. Mas, então, tornava-se necessário ter uma autorização legal, para evitar de ser atormentado pela autoridade. O Sr. Dufaux, que conhecia pessoalmente o Prefeito de polícia, se encarregou de pedi-la. A autorização dependia também do Ministro do Interior, que era então o general X... que era, sem que o soubéssemos, simpático às nossas idéias, sem conhecê-las completamente, e com a influência do qual a autorização que, seguindo uma fieira comum, teria exigido três meses, foi obtida em quinze dias.
A Sociedade foi, então, regularmente constituída e se reunia todas as terças-feiras, no local que alugara no Palais Royal, galeria de Valois. Ali permaneceu um ano, de 1º de abril de 1858 a 1º de abril de 1859. Não podendo ali permanecer por mais tempo, se reunia, todas as quartas-feiras, num dos salões do restaurante Douix, no Palais Royal, galeria Montpensier, de 1º de abril de 1859 a 1º de abril de 1860, época em que ela se instalou num local próprio, rua e passagem Sainte Anne, 59.
A Sociedade, formada, no princípio, de elementos pouco homogêneos e de pessoas de boa vontade que eram aceitas com relativa facilidade, teve que sofrer numerosas vicissitudes, que não foram um dos menos penosos embaraços de minha tarefa.
Allan Kardec
Obras Póstumas
Em torno de seis meses depois, tinha em minha casa, rua dos Martyrs, uma reunião de alguns adeptos, todas as terças-feiras. O principal médium era a Srta. Dufaux. Se bem que o local não pudesse conter senão 15 a 20 pessoas, às vezes nele se encontravam até 30. Essas reuniões ofereciam um grande interesse pelo seu caráter sério, e a alta importância das questões que ali eram tratadas; freqüentemente, viam-se ali príncipes estrangeiros e outras personagens de distinção.
O local, pouco cômodo pela sua disposição, evidentemente, tornou-se muito exíguo. Alguns, dos freqüentadores, propuseram se cotizar para alugar um mais conveniente. Mas, então, tornava-se necessário ter uma autorização legal, para evitar de ser atormentado pela autoridade. O Sr. Dufaux, que conhecia pessoalmente o Prefeito de polícia, se encarregou de pedi-la. A autorização dependia também do Ministro do Interior, que era então o general X... que era, sem que o soubéssemos, simpático às nossas idéias, sem conhecê-las completamente, e com a influência do qual a autorização que, seguindo uma fieira comum, teria exigido três meses, foi obtida em quinze dias.
A Sociedade foi, então, regularmente constituída e se reunia todas as terças-feiras, no local que alugara no Palais Royal, galeria de Valois. Ali permaneceu um ano, de 1º de abril de 1858 a 1º de abril de 1859. Não podendo ali permanecer por mais tempo, se reunia, todas as quartas-feiras, num dos salões do restaurante Douix, no Palais Royal, galeria Montpensier, de 1º de abril de 1859 a 1º de abril de 1860, época em que ela se instalou num local próprio, rua e passagem Sainte Anne, 59.
A Sociedade, formada, no princípio, de elementos pouco homogêneos e de pessoas de boa vontade que eram aceitas com relativa facilidade, teve que sofrer numerosas vicissitudes, que não foram um dos menos penosos embaraços de minha tarefa.
Allan Kardec
Obras Póstumas
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