
A nostalgia por vezes é um sentimento amargo, mas que também nos proporciona cenas que gostaríamos de reviver e que ficaram para trás. Entretanto, jamais serão apagadas de nossas retinas. Essas lembranças ficam vivas não somente porque registram objetos, mas também locais, sonhos e principalmente pessoas que nunca sairão de nosso imaginário.
Chegamos ao bairro de Casa Amarela em janeiro de 1983. Eu, minha irmã e meus pais. Contudo, ainda se vivia intensamente o ano de 82.
O Brasil inteiro ainda chorava a perda da Copa do Mundo da Espanha. Ainda recordo as figurinhas do Naranjito. Contava com 12 anos de idade. Era a primeira Copa do Mundo em que já sabia as posições dos jogadores em campo. E que se extasiava com cada jogada de Zico, Sócrates, Falcão, Éder, Júnior e cia. E o primeiro vilão a ser profundamente respeitado (ele merecia) Paolo Rossi. Passei a entender que nem sempre vence o melhor. Principalmente no futebol.
Havia concluído a oitava série do curso ginasial no Colégio de São Lourenço. Partia para novos desafios. Iniciaria neste ano, o curso científico no Colégio Carneiro Leão em Camaragibe. E esse era justamente o primeiro desafio, tomar o ônibus na avenida Norte com destino à Camaragibe. Era um deleite. Para quem até o ano anterior, ia para a escola caminhando.
Enquanto eu gostava de ouvir a banda Blitz, que ressoava nos quatro cantos do Brasil com "Você Não Soube me Amar", recordo de meu pai ouvindo a coleção inteira de Martinho da Vila. Aliás meu pai me questionava bastante "Como é que alguém compra um disco em que de um lado tem uma música e outro lado é só o nada, nada, nada...".
O disco vinil compacto da Banda Blitz era assim, no lado A, o hit do momento, "Você Não Soube me Amar", enquanto que do outro lado uma vinheta com a voz do Evandro Mesquita. Ficava reverberando, Nada, nada, nada, nada...Confesso, na primeira vez que eu ouvi achei bem divertido. Dei algumas risadas e tal. Depois da terceira vez passei a concordar com meu pai. Sem falar para ele. Óbvio. A rendição daria mais alguns capítulos. Todavia, não foi de todo mal. Comecei a entender na prática, aquilo que Theodor Adorno e Max Horkheimer teorizaram como indústria cultural.
Minha mãe era apaixonada pelas músicas de Núbia Lafayette. Eu até entendia porque ela chorava tanto. Às vezes também me dava vontade de chorar. Das 12 músicas de um disco vinil, não se tinha um momento de alívio. Era um sofrimento só. Minha irmã ainda muito pequena, com 4 anos ainda não havia desenvolvido o seu gosto musical.
Após um longo período sem votações diretas no país, Roberto Magalhães era eleito governador do estado em uma disputa acirrada contra o saudoso Marcos Freire. O Brasil respirava democracia. Estávamos aprendendo ainda a lidar com essa jovem tão aguardada.
Para o pequeno Marcelo, era um cenário diferente. A avenida Norte onde viemos morar, parecia enorme. Com quatro faixas de tráfego. Duas no sentido cidade, duas no sentido subúrbio. Um trânsito movimentado com veículos dos mais variados, residências, lojas comerciais, igrejas, supermercados, padarias. Tudo muito próximo.
Todavia, algo nos deixava profundamente admirados. Os ônibus elétricos. Os Trólebus.
Nada chamava tanto a atenção, a começar no seu diferente design. Os cabos que os ligavam às redes elétricas. Chamadas de bananas. Era comum, se desprenderem da rede e o motorista descer para colocar no lugar novamente.
Era um novo passeio. Minha mãe me levava junto com a minha irmã para o centro do Recife. Não precisava nem descer. Observávamos o movimento das pessoas nas ruas e ainda curtíamos o trólebus.
Os trólebus haviam chegado ao Recife em 1960, eram veículos Marmom Herrington, com tração Westinghouse, norte-americana.
Ao final dos anos 1990, o poder público resolveu encerrar as atividades dos ônibus elétricos em nossa capital. Fica a nostalgia.
Fontes: http://onibusbrasil.com/blog/2010/04/15/trolebus-61-anos-sistema-de-onibus-eletrico-foi-inaugurado-no-brasil-em-1949-mas-somente-9-anos-depois-a-industria-nacional-comecou-a-produzir-este-tipo-de-veiculo/
http://meutransporte.blogspot.com.br/2010/05/onibus-eletricos-no-recife-deixou.html
https://www.youtube.com/watch?v=2I6BdKVZAos
Nenhum comentário:
Postar um comentário