Antonio Gonçalves Filho, O Estado de S.Paulo
O cineasta Matthew Brown, em seu filme O Homem Que Viu o Infinito (2016),
elege o filósofo, um lorde, como um dos principais personagens da saga do matemático
indiano Srinivasa Ramanujan (1887-1920), que ele ajudou a promover.
O aristocrata Russell, que se definia como um socialista, fez na prática o que poucos
em sua época ousaram: ajudou um autodidata indiano a ser aceito pela racista e
conservadora sociedade inglesa da época.
Ramanujan enfrentou (e venceu) a competição de acadêmicos britânicos menos capazes.
Sobre sua História da Filosofia Ocidental, Russell preferiu chamá-la de um “trabalho de
história social”, defendendo-se das críticas que recebeu no lançamento – é conveniente
lembrar que ele também recebeu elogios de gênios como Albert Einstein e
Erwin Scrödinger. Já George Steiner considerou a sua história “vulgar”, opinião não
compartilhada por Scruton.
Essa História da Filosofia Ocidental de Russell certamente é polêmica.
Alguns ensaístas, como Scruton, consideram sua análise do pensamento pré-cartesiano
um tanto superficial.
Isaiah Berlin, que escreveu sobre a obra em 1947, reforça a reputação de Russell
como grande inovador da Lógica, saindo em sua defesa ao observar que, de fato,
o filósofo e matemático poderia ter optado por uma história sistemática do modelo
alemão ou francês de pensamento, mas preferiu ligar a história de pensadores do passado
aos contemporâneos por acreditar que a Filosofia é território de ninguém.
Pitágoras seria tanto um místico como matemático, defende o autor, que, nunca é demais
lembrar, era um filósofo e matemático avesso à ideia de um conhecimento superior
ou inferior. Em resumo: foi um enciclopedista segundo o modelo iluminista do século 18.
Pode-se acusar Russell de não demonstrar inclinação particular pelo transcendentalismo
ou pela teologia mística, mas não o de ignorar a história social – dos gregos, em particular,
ao assumir certa resistência às ideias de Platão (classificado de um filósofo
político “orgânico”) ou à ausência de uma “imaginação emocional” em Aristóteles,
como bem lembrou Isaiah Berlin. Admirador de Espinoza, um racionalista do século 17,
Russell dedica um texto apaixonado ao filósofo holandês, para o qual Deus e a natureza
eram dois nomes para a mesma realidade. No entanto, todos concordam que
seu melhor texto é sobre a filosofia do alemão Leibniz, figura central na defesa
do racionalismo (ele foi um grande matemático). Russell emperra mesmo em Kant,
contestando suas doutrinas sobre espaço e tempo. História da Filosofia Ocidental é isso:
uma obra em que o autor não sucumbe ao poder do mito.
elege o filósofo, um lorde, como um dos principais personagens da saga do matemático
indiano Srinivasa Ramanujan (1887-1920), que ele ajudou a promover.
O aristocrata Russell, que se definia como um socialista, fez na prática o que poucos
em sua época ousaram: ajudou um autodidata indiano a ser aceito pela racista e
conservadora sociedade inglesa da época.
Ramanujan enfrentou (e venceu) a competição de acadêmicos britânicos menos capazes.
Sobre sua História da Filosofia Ocidental, Russell preferiu chamá-la de um “trabalho de
história social”, defendendo-se das críticas que recebeu no lançamento – é conveniente
lembrar que ele também recebeu elogios de gênios como Albert Einstein e
Erwin Scrödinger. Já George Steiner considerou a sua história “vulgar”, opinião não
compartilhada por Scruton.
Essa História da Filosofia Ocidental de Russell certamente é polêmica.
Alguns ensaístas, como Scruton, consideram sua análise do pensamento pré-cartesiano
um tanto superficial.
Isaiah Berlin, que escreveu sobre a obra em 1947, reforça a reputação de Russell
como grande inovador da Lógica, saindo em sua defesa ao observar que, de fato,
o filósofo e matemático poderia ter optado por uma história sistemática do modelo
alemão ou francês de pensamento, mas preferiu ligar a história de pensadores do passado
aos contemporâneos por acreditar que a Filosofia é território de ninguém.
Pitágoras seria tanto um místico como matemático, defende o autor, que, nunca é demais
lembrar, era um filósofo e matemático avesso à ideia de um conhecimento superior
ou inferior. Em resumo: foi um enciclopedista segundo o modelo iluminista do século 18.
Pode-se acusar Russell de não demonstrar inclinação particular pelo transcendentalismo
ou pela teologia mística, mas não o de ignorar a história social – dos gregos, em particular,
ao assumir certa resistência às ideias de Platão (classificado de um filósofo
político “orgânico”) ou à ausência de uma “imaginação emocional” em Aristóteles,
como bem lembrou Isaiah Berlin. Admirador de Espinoza, um racionalista do século 17,
Russell dedica um texto apaixonado ao filósofo holandês, para o qual Deus e a natureza
eram dois nomes para a mesma realidade. No entanto, todos concordam que
seu melhor texto é sobre a filosofia do alemão Leibniz, figura central na defesa
do racionalismo (ele foi um grande matemático). Russell emperra mesmo em Kant,
contestando suas doutrinas sobre espaço e tempo. História da Filosofia Ocidental é isso:
uma obra em que o autor não sucumbe ao poder do mito.
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