Ainda na faculdade, sem ter me decidido que caminho deveria seguir dentro da imensa estrutura filosófica, obtive contato com a disciplina "Fundamentos Psicológicos da Educação". Esta me propiciou o encontro com a ideia construtivista do conhecimento.
Pela primeira vez (imagino), li o nome Jean Piaget. No livro "Teorias da aprendizagem; um encontro entre os pensamentos filosófico, pedagógico e psicológico". Autoria de Makeliny Oliveira e Daniela Leal. Além da descoberta do suíço, um susto maior; a seguinte frase: Os neurônios não pensam.
Ora, mais adiante estudaria na especialização em neurociências justamente essa perspectiva. Todavia, antes de ter contato com as NC imaginava que de alguma forma os neurônios estavam ligados ao pensamento.
Jean Piaget nasce em Nêuchatel, Suíça, em 9 de agosto de 1896. Filho de um curioso casal. A mãe, cujo comportamento fez com que ele despertasse as atenções para a Psicologia. Ele a considerava neurótica. E o pai, um professor de literatura medieval.
Após os 15 anos gradua-se em Ciências Naturais e um pouco depois em Filosofia. Demonstra um interesse também por Religião, Sociologia e Psicologia. Estudou nos laboratórios de G. E. Lips e na clínica psiquiátrica de Bleuer.
Aos 22 anos apresentou a sua tese de doutorado em Biologia. Mudou-se para Zurique, onde assistiu aulas de Jung. Mais adiante vai morar para a França, onde é convidado a trabalhar com o psicólogo Alfred Binet.
Inicia estudos sobre o desenvolvimento cognitivo e passa a se interessar pela evolução gradativa na forma de conhecimento das crianças. Escreve diversos artigos neste sentido e chama a atenção de Édouard Claparède, diretor do Instituto Jean-Jacques Rousseau em Genebra.
Desta forma ele retorna à Suíça para dirigir a instituição e trabalha nas pesquisas que darão origem à Epistemologia Genética. No mesmo local conhece Valentine Châtenay com quem se casa e têm três filhos, Jacqueline, Lucienne e Laurent.
Conforme Davis e Oliveira(1994, p.37),
"Jean Piaget é o mais conhecido dos teóricos que defendem a visão interacionista de desenvolvimento. (...) dedicou-se a investigar cientificamente como se forma o conhecimento. Ele considerou que se estudasse cuidadosa e profundamente a maneira pela qual as crianças constroem as noções fundamentais de conhecimento lógico, tais como as de tempo, espaço, objeto, causalidade, etc., poderia compreender a gênese e a evolução do conhecimento humano."
Piaget possui uma extensa obra, registrada em mais de sessenta livros e centenas de artigos publicados. Deixaremos aqui, uma pequena amostra de sua teoria, na classificação do desenvolvimento da inteligência, desde as fases da infância até a fase adulta.
1. Estágio sensório motor ( de 0 a 2 anos, aproximadamente).
Permanência do objeto. A criança percebe que os objetos continuam a existir, mesmo quando elas não estão vendo ou ouvindo.
2. Estágio pré-operatório (dos 2 aos 6/7 anos, aproximadamente).
Centra-se no egocentrismo. As crianças não são capazes de compreender o ponto de vista dos outros.
3. Estágio operacional concreto (dos 6/7 anos aos 11/12 anos, aproximadamente).
Conservadorismo. As crianças começam a pensar logicamente sobre fatos concretos, mas ainda não são capazes de compreender fatos abstratos ou hipotéticos.
4. Estágio operacional formal (dos 11/12 anos em diante).
Surgem o raciocínio dedutivo, o pensamento lógico e o planejamento sistemático. Além de manipular ideias e pensar de forma abstrata.
Passando a cruzar com algumas informações no campo das Neurociências, com o desenvolvimento de capacidades tecnológicas altíssimas de observar o cérebro humano, podemos induzir que:
* O desenvolvimento deve ser compreendido tomando como base uma perspectiva "biocultural, reconhecendo a interação entre fatores biológicos e socioculturais presentes na vida do ser humano". (Ré 2011, p.56).
* Ao nascer, as áreas mais desenvolvidas são aquelas que controlam os estados de consciência, os reflexos inatos e as funções biológicas vitais como a digestão, a respiração e os processos de eliminação.(...) Com o passar dos anos, outras áreas vão se desenvolvendo, gradativamente, até o momento em que há o amadurecimento das regiões pré-frontais do cérebro, consideradas as últimas a se desenvolver. (Papalia, Olds, 2000).
* Outro ponto interessante a se destacar é o processo de "mielinização" das fibras. A bainha de mielina é uma camada de substância lipoproteica que fica ao redor do axônio do neurônio e tem como função atribuir maior eficiência à transmissão de informação. Ao nascimento, o indivíduo já apresenta muitos neurônios mielinizados, mas este processo continuará acontecendo e só terminará no final da adolescência/início da fase adulta.(Gazzaniga et al., 2006).
Outros autores enfocam diversos aspectos sobre o desenvolvimento da inteligência infantil. Continuaremos com essas pesquisas e publicaremos posteriormente.
Naturalmente que há críticos do trabalho de Jean Piaget. Mais adiante nos ocuparemos destes.
Colhemos um material em vídeo bem interessante neste canal do You Tube:
Bibliografia:
Teorias da aprendizagem; um encontro entre os pensamentos filosófico, pedagógico e psicológico. Makeliny Oliveira e Daniela Leal. Editora InterSaberes.
Tudo o que você precisa saber sobre Psicologia.
Paul Kleinman. Gente Editora. 15ª edição.
Motri. Crescimento, maturação e desenvolvimento na infância e na adolescência. Implicações para o esporte. A. H. N. Ré.
Desenvolvimento humano.
Papalia D, Olds, S. Ed. Porto Alegre.
Neurociência cognitiva: a biologia da mente.
M. S. Gazzaniga, Ivry, Mangun. Ed. Porto Alegre.
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