Por Sylvio Ferreira
Às cinco horas da manhã de hoje, faleceu o meu querido amigo João Caixero de Vasconcelos Neto, ex-presidente do Santa Cruz. O velório ocorrerá na sede do clube, a partir das 13:00, e a cremação do corpo será realizada no cemitério Morada da Paz, na cidade do Paulista.
Quando recebi a notícia do falecimento de Joca, desabei em prantos, não só por ter perdido um amigo querido e amado, mas lamentei também pela enorme tristeza e dor da sua família e dos seus inúmeros amigos. Especialmente, lamentei pelo Santa Cruz Futebol Clube, que ficou órfão de um dos seus pilares mais importantes, nestes quase 108 anos de história do Clube.
João Caixero de Vasconcelos Neto dedicou a sua vida ao Santa Cruz de forma intensa, extensa, concreta e apaixonada. Ele conhecia o clube como ninguém, as suas entrâncias e reentrâncias, cada pedaço de chão, cada tijolo de cada parede levantada, cada funcionário, na individualidade e singularidade de cada um, tendo feito do clube a sua razão de ser, o destino, a vocação, e o compromisso de uma vida, tornando-se assim um dos maiores pilares de sustentação do Clube Coral.
Foram mais de setenta anos, ininterruptos, de amor e entrega ao Santa Cruz, fazendo-se cotidianamente presente. João Caixero de Vasconcelos Neto, o meu querido Joca, entendeu como poucos o espírito do Clube: o Santa Cruz se conjuga no plural. Ele foi, por sete décadas, um fiel escudeiro dessa modalidade de conjugação verbal, por amor ao clube, sempre sobrepondo a forma plural sobre as demais e convocando-nos a participar da vida do Santa Cruz movido pelo espírito coletivo.
O Santa Cruz jamais poderá ser conjugado no singular. Muito menos em um falso plural, em que o "nós" não passa de um proforma, um "plural majestático". Com seu espírito agregador, ele nos fez sentar à mesa para discutir variados aspectos do Clube, sentar com os adversários ou inimigos políticos mais fidagais, sempre o fazendo de forma firme e serena, pro-ativa e dinâmica, sem nenhum ódio ou rancor, colocando face a face as diversas correntes, linhas ou tendências políticas que se revelassem irreconciliáveis.
Agindo assim, foi quase sempre bem sucedido nos seus propósitos, que nunca foram outros senão os de completo interesse do Clube.
O legado que João Caixero de Vasconcelos Neto deixa não pode ser mensurado. Um dos últimos desse legado foi a construção do Centro de Treinamento e Ensinamento Ninho das Cobras --- Rodolfo Aguiar. Para a Construção do Centro de Treinamento, ele operou o milagre da multiplicação, na forma de ajuda e colaboração financeira, doação e aquisição de material que ele obteve de tantas e variadas pessoas. Nessa empreitada, o nosso querido Joca chegou até onde Deus lhe permitiu, mas, seguramente, chegou longe. Com mais de oitenta anos de idade, ele não passou um dia sequer sem visitar o andamento da obra.
Do meu querido amigo que se foi, obtive a grande distinção de ter sido a personalidade do Clube que mais colaborou com artigos para o seu livro, o Santa Cruz de Corpo e Alma. Para a obra, ele selecionou cinco artigos meus e ainda me deu a honra de escrever o posfácio. Desde o momento em que ele compartilhou comigo o material original da obra datilografado, escrito por diversas mãos, eu logo vi que estava diante de um dos livros mais completos e abrangentes sobre a história de um clube de futebol no Brasil. Tendo-o, de imediato, incentivado a publicá-la, o que ele fez numa edição de extraordinária qualidade editorial, em comemoração ao Centenário do Clube, celebrado em 2014.
Por fim, quero deixar registrado a nossa amizade, em suas próprias palavras. A última mensagem que recebi de Joca, no dia 22/12/21, dizia "Querido Silvio, sempre grato por suas orações. Você é meu sempre querido amado amigo". Em minha resposta, não preciso dizer que externei todo meu amor e admiração por ele. Amor e admiração por suas virtudes próprias e que eram muitas. Amor e admiração por sua total entrega, pelo seu amor e paixão pelo Clube do Povo. Descanse em paz, meu amigo!
*A foto abaixo foi tirada na casa de Joca, no último Carnaval antes da pandemia. Nela, ele está junto com as minhas filhas.
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Olinda, 07 de janeiro de 2022.
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