Diferentemente do que aconteceu no processo de rapto de africanos e transporte forçado para as Américas, quando pessoas foram traficadas aos milhões para trabalhar prioritariamente em minas e lavouras, os africanos levados para a Índia, em contingentes muito menores, foram forçados a atuar majoritariamente como trabalhadores domésticos. Isso não os livrou, contudo, de enfrentar toda sorte de maus-tratos. A história dos siddis, como são chamados os africanos e afrodescendentes indianos, é pouco conhecida – mesmo dentro da Índia.
Diante disso, o livro Diáspora africana na Índia: sobre castas, raças e lutas, escrito pelo antropólogo Andreas Hofbauer e lançado pela Editora Unesp, busca jogar luz sobre o passado e o presente dessas pessoas, que sofreram violências físicas, abusos e humilhações e cuja luta contra a discriminação está longe de terminar.
O primeiro contato de Hofbauer com o tema se deu durante uma viagem turística à Índia em 2010. “Diante da minha ‘descoberta’, a da existência de afrodescendentes na Índia contemporânea, logo surgiram uma série de curiosidades, perguntas e dúvidas que passaram a ocupar minhas reflexões”, anota. “Para além das questões básicas referentes à ida dos africanos à Índia, às rotas do tráfico de escravos e às práticas de escravidão no local, perguntei-me desde o início como se deu a “inserção” de populações descendentes de africanos numa sociedade que é conhecidamente marcada pelo sistema das castas. Como ter-se-iam relacionado casta e “raça” (“negro”) ao longo do processo histórico? De que maneira estes dois fatores têm contribuído para a remodelação das vidas e vivências destas populações na Índia, e de que maneira têm contribuído para processos de inferiorização e eventuais lutas contra a discriminação?”
A obra divide-se em quatro grandes eixos, buscando compreender a complexidade que envolve esse grupo. Andreas Hofbauer, em um primeiro momento, resgata as origens dos siddis na Índia e sua história de escravidão e discriminação. Dentro de uma abordagem histórico-antropológica, analisa, por exemplo, o impacto da colonização inglesa sobre o reconhecimento dessa comunidade. A parte central do livro baseia-se numa extensa pesquisa de campo em Karnataka, em que o autor não apenas testemunha o modo de vida dos siddis e como eles têm enfrentado as tensões entre tradição e modernidade, mas empreende também um estudo etnográfico, ponto de partida para comparações com experiências e histórias paralelas ocorridas no Novo Mundo, especialmente no Brasil.
“O objetivo deste trabalho não foi, evidentemente, elaborar uma monografia – no estilo clássico – que se propõe ‘dar conta’ de todos os aspectos da vida dos siddis de Karnataka”, reforça Hofbauer. “Minha intenção é menos pretensiosa e tem foco mais ‘específico’: procurei seguir o eixo analítico já aplicado em outras pesquisas por meio do qual procuro entender de que maneira processos de inclusão e exclusão têm afetado a vida das pessoas, neste caso, a dos siddis: como diferença e desigualdade se manifestam na vivência dos siddis; quais as estratégias de combate às desigualdades este grupo tem desenvolvido; e de que maneira estas estratégias têm repercutido não somente sobre as formas de inferiorização, mas também sobre os processos de diferenciação como um todo.”
Sobre o autor - Andreas Hofbauer é PhD pela Universidade de Viena, doutor em Antropologia Social pela USP e livre-docente junto à Unesp Marília. Pesquisador e docente, vem trabalhando com temas como racismo e antirracismo, diferença e desigualdade em contextos afro-diaspóricos, cultura e religiosidade afro-brasileiras, teoria antropológica e pós-colonialismo.
Título: Diáspora africana na Índia: sobre castas, raças e lutas
Autor: Andreas Hofbauer
Número de páginas: 415
Formato: 16 x 23 cm
Preço: R$ 109
ISBN: 978-65-5711-086-7
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