terça-feira, 16 de maio de 2023

Revisitando Mileto

Que emoção! Ao rever as simples e puras paisagens de Mileto. Colônia grega da região da Jônia antiga (atual Turquia) no litoral ocidental da Ásia Menor. Sua localização geográfica facilitava a navegação, o comércio e o intercâmbio cultural com outros povos. Estamos no ano de 585 A.C., No auge da intelectualidade de Tales, filho de Examias e Hipão. Não esqueçamos que a indicação do calendário gregoriano (instituído no século XVI d. C.) serve para nos posicionarmos em relação ao contexto histórico. 


Período conhecido como "Grécia Arcaica", que se estende do século VIII até V A.C.. Para você tentar compreender se torna necessário, deixar-se transportar mentalmente até esta época e observá-la com alteridade, para não corrermos o sério risco de partirmos com ideias pré-concebidas adquiridas sob o nosso contexto atual e diminuirmos a nossa capacidade de reflexão diante de pensamentos tão grandiosos.

Diógenes Laertios relatará que: "Tales é considerado o primeiro astrônomo e também pioneiro em predizer eclipses do sol e a determinar os solstícios". Era considerado um dos sete sábios da Grécia junto com Tales, Sôlon, Períandros, Cleôbulos, Quílon, Bias e Pítacos.

Também parte dele uma sustentação da imortalidade da alma. Aliás, o que quis dizer nosso personagem com "todas as coisas estão cheias de deuses?". "Théos" é a palavra grega para designar "deus". Reavivando que a palavra não tinha o sentido que se tem hoje, do Deus supremo, judaico-cristão ou islâmico, por exemplo. Os personagens da mitologia eram chamados de "deuses". Teria Tales a visão do mundo espiritual e via deuses (Espíritos)? Embora, alguns comentadores assegurem que ele estava falando do hilozoísmo.

Posso afirmar que por muitas vezes travamos conversas, as mais variadas. Através do pensamento. Eu habitava nesta época um plano imaterial e Tales percebia não só a minha presença, como a de vários outros em minha condição.  As pessoas imaginavam que o pensador, ao ficar durante horas observando um ponto fixo estava imerso em meditações sobre os assuntos que lhe causavam a admiração. O que também não deixa de ser uma verdade. 

Nascido em Mileto, contudo sua família era de origem fenícia. O filósofo chega à conclusão de que a origem de tudo é a água. Justamente, por imaginar uma causa para tudo que existe.

É extraordinário  penetrar neste mundo ainda muito rústico, fortemente influenciado pela mitologia. Explicado pelas Teogonias. Percebemos desde cedo, uma busca incessante deste pensador para explicar os fatos e as origens destes com fundamentos raciocinados. O que de certa forma, já era atestado antes de sua reencarnação.  Só podemos considera-lo como um dos gigantes da humanidade!

Tales é denominado um dos filósofos pré-socráticos, exatamente por ter vivido antes de Sócrates. Esta é uma das divisões históricas da filosofia. Esses pensadores buscavam a origem das coisas sob a denominação de Arché. A fantástica erudição de Tales o leva a constatar que a água dá vida à planta. Os animais e os seres humanos secam totalmente quando morrem. A umidade é fator primordial para a vida na terra. Assim como a falta dela é decisiva para a morte.

O que é mais espetacular é compreender esta passagem comentada por Reale e Antiseri no século XX:

"... A água de Tales deve ser pensada de modo totalizante, ou seja, como a physis líquida originária da qual tudo deriva e da qual a água que bebemos é apenas uma de suas tantas manifestações. Tales é um "naturalista" no sentido antigo do termo e não um "materialista" no sentido moderno e contemporâneo. Com efeito, sua "água" coincidia com o divino. Desse modo, introduz-se nova concepção de Deus: trata-se de uma concepção na qual predomina a razão, e destina-se, enquanto tal, a eliminar logo todos os deuses do politeísmo fantástico-poético dos gregos". 

Como não reconhecer a grandeza deste homem? Como não render-se ao epíteto de "um dos sete sábios da Grécia"?

Estremece o homem materialista do século XXI. Que tamanhas possibilidades imaginou o filósofo antigo? Partindo de situações particulares, na Physis pré-socrática, para encontrar respostas universais.


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