sábado, 27 de agosto de 2011

Evangelho e Individualidade

Efetivamente, as massas acompanhavam o Cristo, de perto, no entanto, não vemos no mestre a personificação do agitador comum.

Em todos os climas políticos, as escolas religiosas, aproximando-se da legalidade humana, de alguma sorte partilham da governança, estabelecendo regras espirituais com que adquirem poder sobre a multidão.

Jesus, porém, não transforma o espírito coletivo em terreno explorável.


Proclamando as bem-aventuranças à turba no monte, não a induz para a violência, a fim de assaltar o celeiro dos outros. Multiplica, ele mesmo, o pão que a reconforte e alimente.

Não convida o povo a reivindicações.

Aconselha respeito aos patrimônios da direção política, na sábia fórmula com que recomendava seja dado "a César o que é de César".

Muitos estudiosos do Cristianismo pretendem identificar no mestre divino a personalidade do revolucionário, instigando os seus contemporâneos à rebelião e à discórdia; entretanto, em nenhuma passagem do seu ministério encontramos qualquer testemunho de indisciplina ou desespero, diante da ordem constituída.

Socorreu a turba sofredora e consolou-a; não se mostrou interessado em levantar a comunidade das criaturas, cuja evolução até hoje, ainda exige lutas acerbas e provações incessantes, mas ajudou o homem a libertar-se.

Ao apóstolo exclama - "vem e segue-me".
A pecadora exorta - "vai e não peques mais".
Ao paralítico fala, bondoso - "ergue-te e anda".
A mulher sirofenícia diz, convincente - "a tua fé te curou".

Por toda parte, vemo-lo interessado em levantar o espírito, buscando erigir o templo da responsabilidade em cada consciência e o altar dos serviços aos semelhantes em cada coração.

Demonstrando as preocupações que o tornavam, perante a renovação do mundo individual, não se contentou em sentar-se no trono diretivo, em que os generais e os legisladores costumam ditar determinações... Desceu, ele próprio, ao seio do povo e entendeu-se pessoalmente com os velhos e os enfermos, com as mulheres e as crianças.

Entreteve-se em dilatadas conversações com as criaturas transviadas e reconhecidamente infelizes.
Usa a bondade fraternal para com Madalena, a obsidiada, quanto emprega a gentileza no trato com Zaqueu, o rico.

Reconhecendo que a tirania e a dor deveriam permanecer, ainda, por largo tempo, na terra, na condição de males necessários à retificação das inteligências, o Benfeitor Celeste foi, acima de tudo, o orientador da transformação individual, o único movimento de liberação do espírito, com bases no esforço próprio e na renúncia ao próprio "eu".

Para isso, amou, lutou, serviu e sofreu até a cruz, confirmando, com o próprio sacrifício, a sua doutrina de revolução interior, quando disse "e aquele que deseje fazer-se o maior no Reino do Céu, seja no mundo, o servidor de todos.

Livro - Roteiro
Francisco Cândido Xavier
Espírito Emmanuel.

Nosso evangelho no lar do dia 26 de agosto.


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