segunda-feira, 7 de maio de 2018

Aliança da ciência e da religião

Na obra "O Evangelho segundo o Espiritismo", o codificador da Doutrina Espírita Allan Kardec escreve um comentário (item 8) em relação ao primeiro capítulo (Eu Não vim Destruir a Lei), intitulado "Aliança da ciência e da religião". Gostaríamos de repercutir um pouco sobre essa questão que mesmo depois de 160 anos permanece tão atualizada com o nosso contexto e ainda fomentando várias discussões.

Assevera o pensador:

"A ciência e a religião são as duas alavancas da inteligência humana; uma revela as leis do mundo material e a outra as leis do mundo moral; mas, umas e outras tendo o mesmo princípio que é Deus, não podem se contradizer; se elas são a negação uma da outra, uma necessariamente é errada e a outra certa, porque Deus não pode querer destruir sua própria obra. A incompatibilidade que se acreditava ver entre essas duas ordens de ideias, prende-se a um defeito de observação e a muito de exclusivismo, de uma parte e de outra; daí um conflito de onde nasceram a incredulidade e a intolerância."

As primeiras linhas da observação já nos convida a um raciocínio. Ao afirmar que ambas são alavancas da inteligência humana nos remete à outra passagem do mesmo livro quando em uma mensagem no capítulo VI, o "Espírito de Verdade" ensina:

"Espíritas! 
Amai-vos, eis o primeiro ensinamento;
Instruí-vos, eis o segundo."¹

O amai-vos liga-se à moral (religião), enquanto que o instruí-vos, ao conhecimento (ciência).
Nós enquanto sociedade, ainda não conseguimos equacionar essa fórmula. Os cientistas em sua grande maioria mantêm-se distantes das religiões. E o contrário também acontece. A maioria dos religiosos viram as costas para as ciências.

Continuando a leitura, no mesmo parágrafo Kardec diz que Deus é o princípio de ambas. O homem da ciência materialista terá extremas dificuldades em concordar que o Criador seja o princípio de sua área de trabalho. Assim como o religioso também não compreenderá de imediato. Tal situação, nos relembra o filósofo escolástico Tomás de Aquino, quando apresentou as suas vias racionais para se chegar à Deus. Nesse estudo vamos nos ater à primeira delas. O movimento. Assegura Aquino:

"Todo movimento tem uma causa, que deve ser exterior ao próprio ser que está em movimento, pois não se pode admitir que uma mesma coisa possa ser ela mesma a coisa movida e o princípio motor que a faz movimentar-se. Por outro lado, o próprio motor deve ser movido por um outro, este por um terceiro, e assim por diante. Nessas condições, é necessário admitir ou que a série de motores é infinita e não existe um primeiro termo (não se conseguindo assim, explicar o movimento), ou que a série é finita e seu primeiro termo é Deus."²

É óbvio que se pedirá ao materialista um pouco de desprendimento de suas convicções para esta assertiva. Assim como para o religioso mais apegado à letra, que ao espírito dos textos religiosos. E pensar com a lógica que nos sugere o Doutor da igreja medieval.

Retomando o texto do educador francês, onde ele aponta que não pode haver contradição entre ambas as áreas de estudo, pois dessa forma o grande Arquiteto do Universo estaria se equivocando em uma delas. E mais, aponta os erros como sendo proveniente de uma falta de observação mais acurada, de um lado. E de outro lado, à muito de exclusivismo.

É perfeitamente isso que ainda encontramos em grande número, tanto de um lado quanto de outro. Obviamente, que nesse processo entram os sentimentos mais mesquinhos ainda vividos pelo homem da terra. O orgulho, a vaidade, a ambição, o apego. Isso o afasta de um possível desapego que se exija às antigas crenças e convicções.

Prossegue Kardec:

"Os tempos são chegados em que os ensinos do Cristo devem receber seu complemento; em que o véu lançado propositadamente sobre algumas partes desse ensino, deve ser levantado; em que a ciência, deixando de ser exclusivamente materialista, deve se inteirar do elemento espiritual, e em que a religião, cessando de menosprezar as leis orgânicas e imutáveis da matéria, essas duas forças, se apoiando uma sobre a outra, e andando juntas, se prestarão um mútuo apoio.Então, a religião, não recebendo mais o desmentido da ciência, adquirirá uma força inabalável, porque estará de acordo com a razão, e não se lhe poderá opor à irresistível lógica dos fatos."

Ao observarmos mais atentamente esse trecho, nos vêm à mente os trabalho de grandes cientistas que conseguiram se desvencilhar um pouco do materialismo exclusivista e limitado, e avançaram em grandiosos estudos e pesquisas sobre o Ser imortal. Podemos citar alguns deles como, o engenheiro francês Gabriel Delanne, o também francês prêmio Nobel de 1913 em medicina Charles Richet, o médico sueco Dr. Nils Jacobson, o Dr Raymond Moody Jr, o psiquiatra americano Brian Weiss, o também psiquiatra americano Jim B. Tucker, o cientista Ian Stevenson, o físico gaúcho Lama Padma Santem, o engenheiro Hernani Guimarães Andrade, o filósofo José Herculano Pires, dentre tantas outras mentes que conduziram os seus trabalhos a estudar o "Homem Integral". Poderíamos citar vários outros nessa mesma linha. Fica sempre a expectativa promissora de uma aproximação maior entre as duas áreas, para que possamos conhecer mais e amar muito mais.




Referências:
1 - O Evangelho segundo o espiritismo/ Allan Kardec; tradução Salvador Gentile. Catanduva, SP: Boa Nova Editora, 2004.
2 - Tomás de Aquino; Coleção Os Pensadores; tradução Professor Alexandre Correia. Bauru. SP. Editora Nova Cultural, 1996.

2 comentários:

  1. Ótima leitura e excelentes colocações. É isso aí! Ciência e Religião precisam andar de braços dados. Parabéns!!!

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  2. Muito obrigado pelas considerações, Adúlccio! Paz e luz!

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