sábado, 3 de novembro de 2018

Existe o destino? Somos levados pelo acaso? Ou construímos nossa destinação?

A Dialética da Liberdade

http://www.econtalk.org/david-boaz-p-j-orourke-and-george-will-on-the-state-of-liberty/

Recebemos através do Twitter o seguinte questionamento do internauta Bruce Casa Nova:

Querido, Marcelo, boa noite! Um forte abraço! Você acredita em destino? Acha que nós o construimos ou existe o acaso, o que já está destinado para nós?

É uma das indagações mais antigas da humanidade. Já somos destinados para algo? Somos levados pelo acaso, sem termos poder de escolha? Construimos nossa destinação?

O assunto nos sugere uma pesquisa sobre os filósofos que se debruçaram sobre o assunto e ao final, o pensamento que mais se assemelha o nosso.

No século I a.C. o filósofo Cícero nega totalmente o acaso e a fatalidade e enfatiza o livre-arbítrio do homem. Em sua obra Sobre a Adivinhação afirma: "não haver a ciência do futuro, e sustentar com todas as forças não existir, em absoluto, nem em Deus nem no homem, e não haver predição de coisas.

João Calvino, téologo francês que junto com o pastor suiço Guillherme Farel implementaram a Reforma Protestante na Suiça a partir de 1536. Para Calvino, os homens eram predestinados. Na sua visão, Deus tem um propósito particular para cada ser de Sua criação. Embora os homens estivessem predestinados à vida eterna ou à condenação, não sabiam de antemão seu destino.

Há um determinismo na Filosofia Budista pois seus fundamentos confiam ao ser humano as etapas para a iluminação. As suas ações influenciarão seu futuro. Obviamente que o seu livre-arbítrio deve ser utilizado para a preparação em um amanhã melhor. Se o amanhã pode ser melhor de acordo com os seus atos de hoje, é natural que haja uma necessidade no futuro de colhê-los. Todo o sofrimento que passamos hodiernamente, trata-se de erros cometidos no passado por nós mesmos.

Segundo o determinismo científico, tudo que existe tem uma causa. O mundo explicado pelo princípio do determinismo é o mundo da necessidade e não o da liberdade. Necessário significa aquilo que tem de ser e não pode deixar de ser. Nesse sentido, necessidade é o oposto de contingência, que significa o que pode ser de um jeito ou de outro.

Naturalmente que outros enfatizam a liberdade humana absoluta. Compreendendo que todos temos a escolha de de cidir e agir como se quer.

Aristóteles por exemplo, enaltece o "princípio de si mesmo" como o ato voluntário. Em "Ética a Nicômaco", afirma que tanto a virtude como o vício dependem da vontade do indivíduo.

Há uma refutação de Hannah Arendt em relação ao estagirita, em que ela ressalta que a liberdade naquele período da história estava restrita ao campo político. Mulheres, crianças, escravos e metecos não possuíam a mesma liberdade.

Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino utilizam o conceito de livre-arbítrio como faculdade da razão e da vontade para escolher um caminho. O bem ou o mal.

René Descartes também se debruça sobre o assunto e e defende que o ser humano deva sempre dominar a si mesmo. Mesmo que as paixões sejam boas em si, cabe à razão averiguar de que forma utlizá-las.

Em meados do século XX, Jean-Paul Sartre em sua filosofia existencialista afirma que o ser está irremediavelmente "condenado a ser livre". Tanto que um de seus principais pensamentos é "A existência precede a essência". O homem vive e vai construindo a sua própria identidade.

Pesquisando no Espiritismo, bússola de luz para todos nós, encontramos algumas explicações bem satisfatórias para a nossa humilde compreesão de vida.

Na obra "A Caminho da Luz", psicografada por Chico Xavier através do Espírito Emanuel, encontramos a seguinte afirmação:

- O determinismo do amor e do bem é a lei de todo o Universo e a alma humana emerge de todas as catástrofes em busca de uma vida melhor. 

A frase é muito clara. Existe um determinismo. Para o amor e o bem. Entendemos que, apesar de utilizarmos o livre-arbítrio em nossas vidas, em um dado momento não termos como fugir de nossa destinação. Naturalmente, em nosso plano ainda existe o mal. E somos responsáveis por nossos atos.
As vidas sucessivas terão um papel essencial na explicação do resgate desse mal.

O filósofo espírita José Herculano Pires entende que há uma dialética da liberdade. Há um determinismo subjetivo, que é a vontade do homem e um determinismo objetivo, que é o das condições de sua própria existência. Da oposição constante dessas duas vontades, resulta a liberdade-relativa da sua possibilidade e ação.

Na questão 844 de "O Livro dos Espíritos" encontramos a seguinte explanação:

- O homem tem liberdade de ação a partir do momento que tem a vontade de fazê-lo. No início da vida, a liberdade é quase nula; ela se desenvolve e muda de objeto com o desenvolvimento das faculdades. A criança, por ter pensamentos relacionados com as necessidades de sua idade, aplica seu livre-arbítrio às coisas que lhe são necessárias.

Em nosso entendimento, devemos utilizar o livre-arbítrio como instrumento para nossa evolução. Quanto maior a nossa consciência, menos o determinismo nos cerceará os movimentos. Pois o estaremos aceitando de braços abertos. Para nossa liberdade maior mais adiante.

Fontes:

Revista das Religiões - Edição 5 - Janeiro 2004 - Por Estela Silva.
Filosofando : introdução à filosofia/ Maria Lúcia de Arruda Aranha, Maria Helena Pires Martins. - 3. ed. revista. São Paulo - SP. Moderna, 2003.
A CAMINHO DA LUZ História da civilização à Luz do Espiritismo. Ditada pelo Espírito: Emmanuel. Psicografada por: Francisco Cândido Xavier Publicação original em 1939 pela: Editora FEB Federação Espírita Brasileira www.febnet.org.br . Versão digital atualizada em setembro, 2016
O Livro dos Espíritos/Allan Kardec. Tradução Matheus R. de Camargo. Capivari-SP. Editora EME, 7ª edição, agosto/2006.
http://www.cacp.org.br/a-genese-da-predestinacao-na-historia-da-teologia/
http://www.universocatolico.com.br/index.php?/a-doutrina-da-predestinacao.html




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